Amanhece o dia, Maria em sua correria, segue
seu ritual matinal. Toma seu banho, seca os cabelos, passa seu perfume, arruma-se
e logo em seguida chama o rádio táxi.
Eis que, como de costume sempre que precisa prontamente
é atendida.
Mas, naquela manha algo pareceu-lhe fora do
habitual - o taxista estaciona e rapidamente, num ato de cavalheirismo, abre a porta do
carro e gentilmente faz o gesto para que Maria entre. Naquele momento, em
questões de segundos, Maria meio incrédula, agradece pela gentileza. Acomoda-se
no carro, dá o endereço de destino e o silêncio acompanha o taxista e a
passageira, que discretamente observa o homem de aparência cansada, de jeito
simples e gestos nobres a dirigir o táxi.
De repente, em meio ao silêncio que se
pronuncia no trajeto, Maria escuta da voz quase silenciosa do taxista, o
balbuciar de algumas palavras quase inaudíveis:
- Discreta, clássica – Um tanto insegura pela própria beleza – introspectiva e séria.
Leva a vida com leveza – sua forma de ver a vida deixa os outros mais alegres.
Num homem, valoriza o olhar, o sorriso e as mãos. Tem um espírito de luta e
determinação, uma guerreira, com doçura e suavidade. Otimista, possui um jeito
próprio de se vestir, e na maquiagem, a
usa apenas para dar um ar mais saudável na aparência. Gosta de conforto, e seu
traço mais forte é ser severa consigo mesma quando busca algum objetivo. Um
tanto displicente para as coisas supérfluas. Sensível, repensa suas atitudes.
Não teme a vida e cultua o valor da alma, não se importando com a beleza da
carne.
Maria, ao escutar tais palavras, olha para o
retrovisor e o homem continua a falar, sem que lhe direcione o olhar, na
continuidade de seu monologo que mais parecia estar recitando uma poesia...
-
Não se reprime, tem seu jeito autentico e gosta de estar com pessoas, pois acredita
que tira da convivência elementos para construir sua própria personalidade. Tem
um porte de rainha, gosta de ser admirada, e faz por merecer.
Maria, ao ouvir aquele monologo, interfere
nos pensamentos do taxista: O senhor esta falando com alguém ou de alguém?
-
Senhora, estou interpretando a fragrância que está no ar...
- Que Fragrância senhor?
- Issey Miyake.
- Estou cansado, trabalhei a noite toda e essa
é a minha ultima corrida. Agora, depois de deixar a senhora no seu trabalho, vou
tomar meu banho, e dormir até ao meio dia e depois retomar ao batente. Mas é
muito bom ir dormir com esse cheiro bom, a senhora além de bonita é cheirosa.
Meio encabulada, Maria dá um leve sorriso, de
canto de boca, agradece a gentileza do taxista. E deseja-lhe um bom descanso.
-
A senhora usa o mesmo perfume por muito tempo! Exclamou o taxista.
Sim eu
gosto de usar o mesmo perfume ate acabar. Somente quando acaba eu troco de
fragrância... Como o senhor sabe deste detalhe?
- A senhora já pegou o táxi comigo outra vez,
e estava usando o mesmo perfume. E as pessoas que repetem o perfume também são
pessoas que gostam de ser o centro das atenções por possuir um grande
magnetismo, com uma personalidade bastante forte. Muitas vezes, podem parecer um
pouco orgulhosa e arrogante, mas na verdade, são mal compreendidas por ter um
temperamento ardente e apaixonado.
O silêncio volta a imperar no táxi entre o
motorista e a passageira. Nesse momento o táxi chega ao seu destino - Maria, paga-lhe
o trajeto e agraciada pela gentileza do taxista, ao se preparar para sair do
carro, sente exalar no ar uma mistura fresca e sensual de almíscar e cedro
amadeirado, com notas vibrantes cítricas - uma irresistível combinação de
acordes marítimos.
Albertina Chraim