quinta-feira, 17 de outubro de 2013

22. MARIA,O PERFUME E O TAXISTA



Amanhece o dia, Maria em sua correria, segue seu ritual matinal. Toma seu banho, seca os cabelos, passa seu perfume, arruma-se e logo em seguida chama o rádio táxi.   
Eis que, como de costume sempre que precisa prontamente é atendida.
Mas, naquela manha algo pareceu-lhe fora do habitual - o taxista estaciona e rapidamente,  num ato de cavalheirismo, abre a porta do carro e gentilmente faz o gesto para que Maria entre. Naquele momento, em questões de segundos, Maria meio incrédula, agradece pela gentileza. Acomoda-se no carro, dá o endereço de destino e o silêncio acompanha o taxista e a passageira, que discretamente observa o homem de aparência cansada, de jeito simples e gestos nobres a dirigir o táxi.
 De repente, em meio ao silêncio que se pronuncia no trajeto, Maria escuta da voz quase silenciosa do taxista, o balbuciar de algumas palavras quase inaudíveis:
    - Discreta, clássica – Um tanto insegura pela própria beleza – introspectiva e séria. Leva a vida com leveza – sua forma de ver a vida deixa os outros mais alegres. Num homem, valoriza o olhar, o sorriso e as mãos. Tem um espírito de luta e determinação, uma guerreira, com doçura e suavidade. Otimista, possui um jeito próprio de se vestir,  e na maquiagem, a usa apenas para dar um ar mais saudável na aparência. Gosta de conforto, e seu traço mais forte é ser severa consigo mesma quando busca algum objetivo. Um tanto displicente para as coisas supérfluas. Sensível, repensa suas atitudes. Não teme a vida e cultua o valor da alma, não se importando com a beleza da carne.
Maria, ao escutar tais palavras, olha para o retrovisor e o homem continua a falar, sem que lhe direcione o olhar, na continuidade de seu monologo que mais parecia estar recitando uma poesia...
- Não se reprime, tem seu jeito autentico e gosta de estar com pessoas, pois acredita que tira da convivência elementos para construir sua própria personalidade. Tem um porte de rainha, gosta de ser admirada, e faz por merecer.
        Maria, ao ouvir aquele monologo, interfere nos pensamentos do taxista:           O senhor esta falando com alguém ou de alguém?
         - Senhora, estou interpretando a fragrância que está no ar...
         - Que Fragrância senhor?
         - Issey Miyake.
         - Estou cansado, trabalhei a noite toda e essa é a minha ultima corrida.              Agora, depois de deixar a senhora no seu trabalho, vou tomar meu banho, e dormir até ao meio dia e depois retomar ao batente. Mas é muito bom ir dormir com esse cheiro bom, a senhora além de bonita é cheirosa.
          Meio encabulada, Maria dá um leve sorriso, de canto de boca, agradece a gentileza do taxista. E deseja-lhe um bom descanso.
- A senhora usa o mesmo perfume por muito tempo! Exclamou o taxista.
       Sim eu gosto de usar o mesmo perfume ate acabar. Somente quando acaba eu troco de fragrância... Como o senhor sabe deste detalhe?
        - A senhora já pegou o táxi comigo outra vez, e estava usando o mesmo perfume. E as pessoas que repetem o perfume também são pessoas que gostam de ser o centro das atenções por possuir um grande magnetismo, com uma personalidade bastante forte. Muitas vezes, podem parecer um pouco orgulhosa e arrogante, mas na verdade, são mal compreendidas por ter um temperamento ardente e apaixonado.
       O silêncio volta a imperar no táxi entre o motorista e a passageira. Nesse momento o táxi chega ao seu destino - Maria, paga-lhe o trajeto e agraciada pela gentileza do taxista, ao se preparar para sair do carro, sente exalar no ar uma mistura fresca e sensual de almíscar e cedro amadeirado, com notas vibrantes cítricas - uma irresistível combinação de acordes marítimos.
        

 Albertina Chraim