domingo, 21 de julho de 2013

21. IMIGRANTES ERRANTES


Era um baile desses de carnaval e a bebida corria solta, nas mãos daqueles jovens que dançavam a juventude naquele salão.
Mas, o infortúnio daquela noite não previa que o destino de dois jovens estaria marcado para o resto de seus dias.
Ele, moço bonito, sentiu-se enciumando com outro jovem que galanteou a sua amada.
Nesses rompantes da juventude desfere um golpe certeiro e tira a vida do tal galante.
Agora desesperado, sem acreditar no que havia feito, abraça sua companheira, que num passe de mágica tenta socorrer aquele corpo já desfalecido.
E a música silencia aquele final de noite que acabou com a cantoria...
E o casal em parceria, olha um para o outro sem saber o que faziam.
Ela então temerosa, segura a mão do amado, pedindo-lhes desculpas por ter provocado...
E em meio ao silêncio, ao longe se escuta a sirene a aproximar-se do corpo e os dois jovens fogem para não serem alcançados.
E os pais daqueles jovens, agora assassinos, homens afortunados, carregam uma barcaça de sedas e suprimentos e colocou-os a correr mundo.
Essa seria a penitencia – prefeririam ver os filhos à deriva, do que vê-los enforcados.
Foi assim que naquela noite, daquela pacata cidade, de um país bem distante, que se inicia a saga daqueles imigrantes...       
Foram logos meses a desbravar os continentes, atravessando o oceano em meia tempestade e a tantas correntes.
Varavam as noites, chegavam os dias, e os suprimentos já finando, e as estruturas em avarias...
Atravessaram os continentes...  Em meio às tormentas já não sabiam se sobreviveriam nem o que encontrariam pela frente...
        Depois de alguns meses a deriva, sem rumo e sem guarita, em meio a tempestades, com o barco a deriva, pagando as duras penas o peso da incoerência.  Sem ver uma alma viva, cansados e já famintos, ajoelharam-se em penitencia implorando perdão por ter tirado uma vida.
       E eles ainda jovens, adormeceram inocentes declarando-se desejosos de recomeçar a nova vida.
       Não se sabe quanto tempo eles adormeceram, mas ao acordar, avistaram o mar em calmaria e a proa apontava para uma baia.
    Atracaram sua barcaça naquela nova ilha, desbravando aquele deserto, e a vida retomariam.
      E aquele novo lugar, agora habitado tornou-se a morada dos novos imigrantes.
    E o lugar foi crescendo – como passagens dos viajantes errantes. Ate hoje não se sabe o segredo dos primeiro habitante.

Albertina Chraim

terça-feira, 16 de julho de 2013

20. MARIA E O ERMITÃO


Maria subiu o morro, entre trilhas e pedras. Não tinha pretensão de se ir muito além.
Talvez avistar as linhas do horizonte a encontrar-se na imensidão daquele vasto mar que se perdia na sua direção como se estive a procura de alguém.
Parou para mirar aquele descampado que abrigava algumas pedras em total solidão. 
Ao olhar tal paisagem se perdia em pensamentos e de repente, por detrás daquele espaço vê surgir um ermitão.
De barbas quase ruivas, mal trapilho - com um cajado em sua mão, e os pés desnudos tocavam sua pele ao chão.
Maria já não sabia se tinha voltado aos tempos, se era realidade ou apenas ilusão...
E ele assustado, sem ter reação, o homem ergue a cabeça e sai em disparada.
Maria curiosa e sem ação, aproxima-se do local como que estivesse em imersão.
Abrindo a clareira com a palma de sua mão...  Em meio ao matagal depara-se com aquele homem mais parecendo acuado a querer esconder-se, mesmo sem opção.
Maria reconhece aquele tom de voz que lhe implora para que não haja nova aproximação.
Assustado, meio que de costas, em posição de retirada espera a reação de Maria, que impiedosa não respeita o apelo do ermitão. Ao virar-se então de frente, não acreditava no que sentia.  Sente um frio na barriga, ao depara-se com o que via...
Reconheceu aquele homem que há tempos não o via... E o coração de Maria agora também acelerado, fita aqueles olhos, que já não lhe era mais estranho.
Foi assim que Maria reencontrou aquele homem. Foram se aproximando como quem descontrolados... E os cantos dos pássaros em sinfonias os mantinham acordados.
Maria toca-lhe a face com a mesma ternura de alguém cujo tempo jamais tivesse se afastado...
E aquele homem, agora rude, de tez queimada do sol, com suas vestes quase rasgadas, em total abandono, ajoelha-se a sua frente e segura-lhe firme sua mão, a implorar que vá embora.
Maria não entende como pode estar ali , diante daquele homem, que um dia lhe fez juras de amor e por uma desilusão, alojou-se naquela caverna afastando-se da civilização.
Foram anos de procura, de vazio em seu coração, pois o homem que amava agora segurar-lhe a mão...
Viajou por tantos lugares, a procurá-lo em cada canto e quando não mais acreditava, estava ali na sua direção.  
Ainda meio sem jeito, a perguntar-lhe os motivos, o homem de voz bonita diz que foi tudo ilusão... Que o amor o desacomodou-lhe, tirando-lhe a razão...
E agora já mais calmos, desbravando aquela caverna Maria escuta de longe o alarme do despertador anunciando que já era hora e que o sonho acabou.



Albertina Chraim


sábado, 13 de julho de 2013

19. MARIA E SEU AMOR CONFESSO



     E ele chegou de mansinho para não acordar Maria, que de olhos fechados buscava seu sono naquela noite fria. Chegou caladinho, pois ela merecia depois da fadiga daquele longo dia. Maria de longe ouvindo o pulsar de seu coração, adormeceu em devaneios com o calor daquele corpo a cobri-la para os restos de seus dias. E ele aconchegou-se no corpo de Maria ficando de conchinhas, naquela noite fria.
O fogo da lareira, ainda em brasas vivas, aquecia o teto de dois enamorados. E os alicerces daquele casarão sustentavam as paredes dos dois corações. 
Ele buscou a mão de Maria e segurando-se - seguro - adormeceu em seus braços.
Como quem embalados pelo amor perderam-se no tempo sem saber se era madrugada ou se já amanhecia o dia.
Maria não sabe dizer o valor deste gesto que mesmo de forma muda ecoa nos cantos daquela casa - Eu te amo – confesso.

Albertina Chraim

segunda-feira, 8 de julho de 2013

18. MARIA ESCREVE UMA CARTA DE AMOR


Escrevo essa carta, talvez pela ânsia de  entender aquilo que  já nos é entendido, porem algo que nos vem de outra ordem, uma mistura de misticismo, carência, ânsia de viver. Um desbravamento da ordem das entranhas. Um jogo de sedução em forma de corpo e um corpo envolto nas emoções. Se tocarmos em frente, teremos  o dom de ser feliz. Mas, se todos somos capazes de ser felizes, então onde estará o dom de ser capaz? Onde encontremos a fonte da felicidade senão a encontramos dentro de nos mesmos?
Não, não é fácil equilibrarmos pregos na construção de nossa própria  identidade. E no momento, só nos resta ser a própria obra na reconstrução da busca de nos melhorar a cada dia.
Quantas pessoas por nos  já passaram, talvez com  o mesmo olhar de admiração que tenhamos um para com o outro. Mas parece que somente nesse momento, nos demos o direito, nos permitimos a essa ousadia... Nos admitimos para essa peripécia, como se a vida nos convidasse a brincar um pouquinho  mais e vivenciá-la de uma forma mais irreverente. Somos adultos, somos pessoas, as vezes jovens velhos e  outras, velhos jovens. Não é tão simples driblar os sentimentos  quando a razão nos da uma rasteira nos deixando a mercê das emoções e nos fazendo acreditar que o amor vem sempre na contra mão.
Tudo parece tão simples, ao mesmo tempo que nos parece tão fácil. Tudo parece tão complicado quando poderia ser muito simples.
Se tu queres, eu quero, se eu quero, tu queres. Será ânsia de viver, será desejo carnal, será carência de toque, de olhar nossos olhares e ter certeza que tem o outro na suas mãos?
Não sei, não sei, mas  alguém disse um dia, que a Paixão seria algo da ordem do descuido de sim mesmo... Da ordem da negligencia da razão. Algo que vem para justificar nossas insatisfações pessoais, nosso desejo de repensar nossa própria identidade.
E assim vamos pensando o que a vida faz conosco. Muito alem de viver um dia de cada vez, vivemos varias historias  no mesmo dia... E vamos construindo nossos cenários de experiências e memoriais.
Fico  molhada, fico excitada, só em pensar, me sinto acariciada o tempo todo. Me sinto amada, me sinto querida só em te ouvir, só em relembrar teus sussurros sorrateiros no pé de meu ouvido.
Você se encaixa em mim e eu me encaixo em você, como se fossemos os poros de nossas peles.
Sinto teu cheiro, teu hálito  e tudo me lembra sexo, e ao relembrar o sexo, me recordo do  tom de tua voz quase moleque,  me tirando do rumo. 
E nesse rumo eu me aprumo como se estivesse sem rumo. E assim você me chega como quem de repente, com sorriso bonito, olhos tristes e banho tomado, cheiro no corpo de homem sedento de carne.
E eu, tão segura de mim me deito agora na tua cama e nosso corpos em algazarras cometem o pecado. Não, não é brincadeira, mas parecemos duas crianças, brincando com coisas de adultos.
E la no fundo estamos a escutar nosso corações a nos alertar... não brinquem com fogo, alguém pode se queimar. Sempre soube que há de se ter juízo para servir de exemplos para os mais novos...  Mas, que exemplo posso dar se estou gostando de  me arriscar?
Ë, é ousado esse momento, mas me ensinaste  a sentir falta de ti, me ensinaste e te querer sempre mais. Teu jeito atrevido, de não me dar ouvido, me agasalha a alma tão sedenta de calor.
Se me encosta a pele,  sinto arrepiar-me os poros, e em minha boca sinto o teu sabor. Não, não posso dizer não a esse sabor de vida, mas também não  posso querer-te como cicatrizes de uma ferida daquelas que deixam marcar como recordação do lado cruel da vida, pois se foi para ir embora, por que veio?
Por que as coisas são tão difíceis de administrar quando o assunto envolve o coração?
Não, não posso me apaixonar, não  quero te amar, não quero me acostumar, não quero tantas coisas  com medo de nos machucar. Só em pensar que nesse momento podes estar em outros braços vem-me o frio na barriga como a quem me dizer que é hora de me retirar-me. Mas levo comigo o sabor de tua carne. Então meu amor, se for para sair saia de mansinho tal como quem chegou me desconsertando, tirando-me de meu rumo. Pois mesmo longe de ti terei a variadas formas  de  fazer homem amando.

Albertina Chraim

quarta-feira, 3 de julho de 2013

18. MARIA É ESCRAVA DAS PALAVRAS





      Sou escrava das palavras. Elas exercem um fascínio de tamanha  proporção que muitas vezes chegam a ser maior do que própria dimensão.
     Não sei de onde isso me vem. Mas, habituei-me a colhê-las como quem se encontra num vasto pomar, saboreando os frutos de cada estação - ou quem sabe perde-se num deserto no meio da solidão.
    Ao atravessar o deserto das palavras, deparei-me com a ilusão de que, cada uma delas, quando profanadas – foi no sentido de “atravessar”, - que aprendi a escutá-las. E como  que num oásis,   me adentram como fagulhas  aquecendo-me a alma.
     Confesso que nessas andanças, não foram poucas as palavras que dilaceradas, outras muitas amadas escreventes, me fizeram vida.
     Palavras de ordem, outras  tantas de desordem...
     Palavras, sempre as palavras! As ditas, as não ditas, as santas quem sabe, as mal ditas - as ouvidas outras apenas sentidas. As palavras doces, as palavras sem vida. Palavras soltas, e tantas palavras esquecidas...
     Palavras que me desconsertam quando em concertos me acertam.
     Por meio das palavras ouço os tons de tantas vozes, e quando mudas, amadora me deito em cada gesto alinhavando a conversa matinal acariciando meu corpo.
     Tantas palavras doces, sorrateiras, as palavras safadas desordeiras, - tantas as palavras que não cabem em explicação.
     Somente aprendemos a escutá-las quando se perde a razão.
     Às vezes lúcidas, às vezes apaixonadas, a palavra tem peso como o amor que em surdina desequilibra a razão.
     Palavras soltas trazem estragos, nos expondo ao perigo, porem quando juntas constroem tanto abrigos.
     Talvez seja a palavra o bem maior de toda uma civilização, quando por meio delas são tomadas tantas decisões.
     Ah!
     As palavras, coisa do tão feminino - se, homem ou mulher, diante dela se desmancharam tantos castelos.
     Um “sim” ou um “não” - não faz a diferença - quando as palavras são jogadas para fora da alma, cai sobre terra os desejos do coração.

   Albertina Chraim

terça-feira, 2 de julho de 2013

17. MARIA TEM DÚVIDAS - SERÁ POR AQUI QUE SE VAI PRA LÁ?


       Nossa decisão pessoal não depende do impulso do Outro, justamente por se tratar de algo tão intimo. 

      Porem, às vezes, a forma como o Outro nos coloca nos ajuda a refletir melhor e de algum ângulo que não nos é percebido.             

     Penso muito na colheita – que se remete a necessidade do plantio, pois sem ele não há frutos.Eis que no desejo, num passe de mágica surge a semente a nossa frente.

     E agora:
     Desprezá-la ou torná-la fecunda?
     São escolhas que fazemos ao longo de nossas vidas... E se desejarmos, toda semente será fecunda.            

     Se, desprezá-las nunca saberemos quais frutos virão...
     Se adubá-las estaremos de frente com o fruto, às vezes nem tão doce, às vezes nem tão amargo, mas saberemos que plantamos.

     E a orientação - tão divisora de águas na vida de tanta gente nos coloca em algum momento diante do dilema das tomadas de decisões.

    O que significa “tomada de decisões”?

    Não nos damos conta que na maioria das vezes as decisões já estão tomadas e apenas não temos coragens de assumi-las.

    E como desbravadores dos mares, desbravadores das estradas, desbravadores dos ventos, em cada tomada de decisão respiramos o sabor de recomeço.
    Se, por um lado, ao recomeçar nos deparamos com o desconhecido, por outro lado nos afastamos daqui que já nos é conhecido...

     Mas o tempo chegou e é preciso nos desacomodar.   

    Ha de se ter consciência de onde queremos chegar, estar, ou ficar.Será que daqui ha algum tempo tudo poderia ser melhor?

    E o que a vida nos cobrar diante do agora, se não for tomadas de decisões para o amanha?

    Os resultados vêm silenciosamente assim como a semente que também silenciosamente vai brotando da terra -  e num passe de mágica por meio do tempo vai-se germinado o broto, transformando-se em fruto preparando-se para a colheita..."debaixo do céu há um tempo para cada coisa!" 

      Nesse tempo de buscar, “é o agora ou nunca” - pois é no presente que se planta o futuro.

     E o futuro esta nas leituras que você faz, nos valores que abraça, nos amores que você ama que determinarão sua colheita futura.

     De que estabilidade está precisando então?   

    Financeira?

    Emocional?

    Social?

   Profissional?

    São tantas as estabilidades necessárias que parece impossível alcançá-las todas ao mesmo tempo. 

    E nenhuma dessas estabilidades pode andar separadas umas das outras - muito embora por uma dessas causas precisemos fazer abandonos.

    E nas tomadas de decisões, o que nos custa, nunca é a decisão em si, e sim os abandonos que precisamos fazer.
    E de repente, nos sentimos preguiçosos para assumirmos esses abandonos. 

     Muitas vezes o que nos custa é o abandono de nós mesmos. Por outro lado, sem cultivo, a vida não nos é real – sementes de hoje, frutos de amanha e os frutos de hoje nos darão as sementes do amanha.

    Junte o tempo atual e faça uma analise do que te é seguro aqui, e o que você terá de real por lá.      E o que te oferece segurança, lá estará o teu futuro aqui? 

    Olhe os Teus, e veja o que te pedem, mesmo que se fechem muitas vezes em silencio. Olhe para você é veja o que mais te preocupa amanha.

    Veja o que é possível conciliar entre o desejo e a necessidade.  Junte o par – conversem sobre realidades, fantasias, sobre o presente, e que nesse consenso encontrem a melhor decisão. Nos momentos de tomadas de decisão não nos basta um “tu que sabes”.
     É preciso muito mais. É preciso – um “estou junto nessa caminhada". 

    Seguindo ou ficando - tenham juntado a certeza que é o melhor caminho, mesmo que não se saiba que é por aqui que se vai pra lá.

    Há varias formas de distância, e por mais que pareça, a distância tem duas linhas paralelas, e toda paralelas, nunca se encontram - uma para aproximar-se e a outra para afastar-se.
    Às vezes, estamos tão juntos que não percebemos  a distância -  outras vezes,  estamos tão distantes que nos percebemos juntos.

    Nossos entes nos são tão sagrados, que por eles mesmos, talvez os abandonos se façam “o melhor presente”. 

    Apaixonamos-nos, e somos por si só apaixonantes - e por tantos motivos não nascemos para ficar sozinhos. 

    Precisa o homem, precisa a mulher, precisa-se do sexo, do toque, do colo, do amor, das brigas, das brincadeiras, precisamos nos sentir vivos, amados, cariciados, desejados. 

     Precisamos acima de tudo isso, num momento de decisão que as responsabilidades nãos nos recaia sobre uma única sentença - a da condenação.
     Precisamos da segurança de que o Outro esteja junto, não para condenar o que deu errando, mas para que nos aponte onde podemos melhorar,  antes mesmo do erro, e quem sabe se melhorarmos possamos nos encontrar no mesmo lugar.
     E assim sabemos que já não se trata de tomar decisões ou fazer abandonos. Trata-se de acharmos alguém  queira por inteiro nos desacomodar.
     Com a certeza que é por aqui que se vai pra lá.

Albertina Chraim

segunda-feira, 1 de julho de 2013

16. SARAU - CARTAS DE AMOR - PROJETO ESCRITURANDO


A chuva fina e o frio não indiferentes, cortavam as vestes que cobriam  nossos corpos adornados  pelas “cartas de amor”.
No vão da janela em forma de pontes nos uniam a  solidão  da ilha, ao vasto continente, nos apontando tantos horizontes.
E o sarau escriturando falava de  “amantes passageiros” e das cartas de tantos amores que caídas em outras mãos tornam-se cifras escritas do amor em camadas.
E os traços das vestes, em rendas camisolas, retomavam as moradas pretas de nossas memórias meninas.
E as rocas quebradas, cerzindo cada mulher que há no coração da amada, juntavam-se as costuras, unindo pedaços de vida como quem se monta as colchas de retalhos.
 Em cada fio que tecíamos falava-se também  das “cartas de desamor”,  e do quão o amor nos eleva ao ridículo, e que  - se fossemos  buscar o sentido desta palavra, o encontraríamos na  prateleira do riso.
Foram tantos os assuntos em volta das “cartas de amor”, ou quem sabe o amor estava as nossas voltas, em forma de bom-bom, com sabor de “amor carioca”. Aquele amor chafariz, que nos cobre de cortina d’água, muitas vezes em esguichos, ou em forma de cascatas.
E os ovos de madeira,  adornos de nossas avós - que costuravam as meias do homem  amado,  antes dos escalda pés, nos levaram a conclusão, que, o amor, jamais muda de lado.
Quantas  meias costuradas em nome do amor, e quantas cartas remetidas não alcançaram o desejo do emissor...
E foi assim naquele final de tarde, com sopa de capelete, que eles se encontraram no sarau escriturando que falava de “cartas de amor”.
Falou-se do fogo, também  de recomeço e que o sentido da queima - vem do desejo que das cinzas,  tal qual Fênix   - ressuscitante é  o amor.
E elas, muito embora ainda meninas, nessas coisas do amor, de falas apaixonadas, eloqüentes manifestavam-se representante da mulher...
Espere !
Não, não era coisa do feminino, de mulheres sonhadoras, também havia um homem, falando coisas do amor... E ele, que mesmo acabrunhado no silêncio de  seus olhos se reportava aquele ultimo beijo, ainda sentido ao perfume da amada.
Então dei-me conta que o amor é algo serio que perturba os sentimentos nos tirando do hemisfério – indo muito alem dos gêneros... não se importando ser másculo ou feminino, quando ele chega  se acamando em forma de coração  faz o homem ou a mulher perder-se de vez  da razão.
Feliz é o coração que um dia, mais que receber, autorizou-se a escrever uma carta de amor, mesmo que nunca a tenha chegado a mãos de seu amor.


Albertina Chraim