terça-feira, 16 de julho de 2013

20. MARIA E O ERMITÃO


Maria subiu o morro, entre trilhas e pedras. Não tinha pretensão de se ir muito além.
Talvez avistar as linhas do horizonte a encontrar-se na imensidão daquele vasto mar que se perdia na sua direção como se estive a procura de alguém.
Parou para mirar aquele descampado que abrigava algumas pedras em total solidão. 
Ao olhar tal paisagem se perdia em pensamentos e de repente, por detrás daquele espaço vê surgir um ermitão.
De barbas quase ruivas, mal trapilho - com um cajado em sua mão, e os pés desnudos tocavam sua pele ao chão.
Maria já não sabia se tinha voltado aos tempos, se era realidade ou apenas ilusão...
E ele assustado, sem ter reação, o homem ergue a cabeça e sai em disparada.
Maria curiosa e sem ação, aproxima-se do local como que estivesse em imersão.
Abrindo a clareira com a palma de sua mão...  Em meio ao matagal depara-se com aquele homem mais parecendo acuado a querer esconder-se, mesmo sem opção.
Maria reconhece aquele tom de voz que lhe implora para que não haja nova aproximação.
Assustado, meio que de costas, em posição de retirada espera a reação de Maria, que impiedosa não respeita o apelo do ermitão. Ao virar-se então de frente, não acreditava no que sentia.  Sente um frio na barriga, ao depara-se com o que via...
Reconheceu aquele homem que há tempos não o via... E o coração de Maria agora também acelerado, fita aqueles olhos, que já não lhe era mais estranho.
Foi assim que Maria reencontrou aquele homem. Foram se aproximando como quem descontrolados... E os cantos dos pássaros em sinfonias os mantinham acordados.
Maria toca-lhe a face com a mesma ternura de alguém cujo tempo jamais tivesse se afastado...
E aquele homem, agora rude, de tez queimada do sol, com suas vestes quase rasgadas, em total abandono, ajoelha-se a sua frente e segura-lhe firme sua mão, a implorar que vá embora.
Maria não entende como pode estar ali , diante daquele homem, que um dia lhe fez juras de amor e por uma desilusão, alojou-se naquela caverna afastando-se da civilização.
Foram anos de procura, de vazio em seu coração, pois o homem que amava agora segurar-lhe a mão...
Viajou por tantos lugares, a procurá-lo em cada canto e quando não mais acreditava, estava ali na sua direção.  
Ainda meio sem jeito, a perguntar-lhe os motivos, o homem de voz bonita diz que foi tudo ilusão... Que o amor o desacomodou-lhe, tirando-lhe a razão...
E agora já mais calmos, desbravando aquela caverna Maria escuta de longe o alarme do despertador anunciando que já era hora e que o sonho acabou.



Albertina Chraim


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