domingo, 24 de novembro de 2013

26 .MARIA E OS OLHOS DO MENDIGO


        Conta a historia, que a morada de Maria já foi palco de uma guerra fria. Se o mundo era pequeno, a cidade, menor ainda. Com suas ruas de paralelepípedos, as cadeiras nas calçadas, e nas praças a criançada a correr desvendavam o mundo.  Era assim aquela cidade do interior. E Maria a acreditar que a vida seria muito,  muito mais, do que se via. E todas as tardes, a passear naquela praça avistava um mendigo sentado solitário. Ficava a imaginar, qual solidão daquele homem, que parecia vivo morto, sem qualquer motivação. E num desses dias, de total curiosidade Maria começou a olhar os olhos daquele homem. E assim percebeu que algo acontecia. Pois, de um dia para o outro, alguém lhe fitava a face, como quem a buscar razão.
Os dias se passaram no final daquelas tardes. - Maria avistava o mendigo sentado na praça, acompanhado de um velho amigo, que se, alguém aproximasse, atacava o curioso com um forte latido.
Era impossível não perceber que algo estranho se passava, pois ao aproximar-se daquele homem, algo a desacomodava. Então, um dia, enchendo-se de coragem - com um olhar amistoso, conquista o quatro patas, e daquele homem se aproxima. Pede-lhe licença, para sentar-se naquele banco, mas o homem rapidamente  se afasta.
Não foi ainda  dessa vez, que Maria matou sua curiosidade, pois o homem em questão de segundos endurece sua face e se some no tempo como que no ar se desintegrasse. Maria incrédula do que estava acontecendo -     Quantas vezes por ele passava, e esse, se permanecia calmo e sereno. Mas, quando tenta se aproximar, nega-lhe qualquer aceno.
      Agora, Maria ficava sem entender o que havia com aquele homem e o que estava a esconder. Foram assim todos os dias e Maria agora se via intrigada com aquele mendigo sentado naquela praça, como se fosse um mistério a percorrer. Resolveu então, trazer-lhe um prato de comida, mas o homem assustado mais uma vez se afasta, sumindo no tempo como se fosse uma assombração, um fantasma.
      Maria intrigada, senta no banco da praça no lugar daquele homem a catar alguma resposta. Não estava acreditando no que acontecia, já não sabia que o que se passava – se seria real, ou fantasia. Agora se sentido ela - a solitária.
Em questão de segundos... Sente-se transportada para dentro de sua própria casa, que lhe parecia agora estranha - um lugar gélido e frio, com pessoas  diferentes, num cenário de arrepio. No meio de tanta gente que pareciam distantes, observa o mendigo da praça, agora rico e elegante. Sentado a uma mesa daquelas de muita gente, rodeado de empregados a servir-lhes farta refeição.
       Do lado, muita algazarra, numa festa a fantasia, muito vinho, muita gente, uma intriga se inicia. O motivo, nunca se soube, mas aquele mesmo homem, que na Praça Maria via, era o homem que um golpe certeiro o peito alguém lhe feria. Não se sabe quem o fez, naquele naquela festa a fantasia, nem qual motivo teria... Mas foi assim, que Maria descobriu que a sua morada, há muitos anos atrás, teria sido palco de uma guerra fria.
       Maria então, acorda daquela sensação, corre até a sala de sua própria casa, abre-lhe a cortina, deixa entrar o sol, vê as crianças a correr, em volta de sua mesa, felizes a brincar. Pois tudo que havia acontecido, não passava de estranho sonho. Da janela  de sua casa, avista um andarilho, que passava solitário  do  outro lado da praça, trazendo nas costas um fardo, e ao seu lado caminhando sossegado, seu fiel e amigo cão.


Albertina Chraim

sábado, 23 de novembro de 2013

25. MARIA SAI A FRANCESA


          Maria, caminhava pela vida, como sempre, distraída para as coisas tão banais. E numa dessas esquinas que se vê dividida, encontrou uma, ate então, amiga, a lhe gracejar belo sorriso. Desses que ao abrir-se se esvazia a alma, engolindo o espectador do pescoço ate o umbigo.  E numa dessas conversar de corredor, Maria escuta o que ate então era velado como se fosse um segredo para olhos de mercador.
- Maria! 
-Tua luz brilha, tua estrela é radiante e isso  ofusca as pessoas ao teu lado, deixa-as como meras figurantes...
Maria, sem entender o que estava se passando, dá um sorriso de lado, como a desejar que se apague aquele instante. Os segundos de silencio atravessaram alguns minutos... E sem entender, Maria é pega de surpresa pelo teor daquela conversa, sem pé e sem sentido, e cheia de resíduos...
Senta-se  ao chão para buscar a razão de tamanha  insensatez.  E o silencio permanece nos olhos de Maria. Mas, a pessoa continua a sua profecia.  
- Você é estrela, aparece em todo canto, fica difícil conviver com alguém que ofusca do Outro, o encanto.
Maria, em silencio a escutar o que ouvia sente que de onde veio a fala,  era como se estivessem a jogar-lhe na cara,  um  balde de água fria.
     Sem entender, o que estava acontecendo, Maria, comedida, mede as palavras para não desferir ofensas para aquela fantasia. Então, em questão de segundos, de surda se veste  como que a transformar as falácias em confete.       Mas, a pessoa não se basta e diante do  silencio se sente poderosa a continuar aquela fala. 
- Você é feliz, o marido mora longe, tens dinheiro e és rica, podes sorrir a todo instante.
E não para por ai, o desabafo da colega que  juntando Maria no canto consegue descarregar suas quimeras.         
Maria indigna-se, com o que estava a ouvir  daquela conversa de ventarola que  dava vontade de dormir.  Então  pede desculpas por não saber  o que dizer,  pergunta o que  esta acontecendo e o que realmente a pessoa quer dizer... 
Agora, a pessoa em silencio,  fita os olhos de Maria que por segundos, sai dali, e da volta ao mundo – percorre tantas leituras que fez do humano, e busca entender o que esta ali, diante dela, literalmente se passando.  
O silencio, dominador  daquele momento, desacomoda Maria  daquele pensamento, a pensar no que poderia responder. 
Como  pode, a sua identidade, ao Outro fazer sofrer?
Pensou nesse marido, que  nunca esteve distante, pensou em qual riqueza, que não seja ouro ou diamante. E assim Maria,, acreditando na fragilidade daquela humana, pede desculpas por existir. 
E numa tomada de decisão, para não estrangulara as relações,  vai saindo à francesa, jamais em tom de despedida, com a certeza que ao afastar daquele espaço vai dar a chance para outros  polirem suas estrela.

Albertina Chraim

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

24. MARIA E A AVE DE RAPINA


Maria encontrava-se enleada no transito daquela cidade, tão provinciana no gelo do inverno, que  transformava-se em inferno no calor de seu verão. Perdia-se nas características daquela cidade bucólica, ao ouvir as buzinas dos carros como quem a pedir passagem junto à população. Ouve na radio, as noticias do dia – mas, seu pensamento voa longe em outra direção... Vê distanciar-se o corpo da alma, em total comunhão - em meio a tanta, gente naquele anunciar do verão... Bem que poderia nessas horas, transformar-se em uma ave de rapina, com desejos da carne e visão de longo alcance. Quem sabe chegaria mais rápido ao seu destino. Em questão de segundos sente um vazio no ar. Seu corpo cria bicos e com garras afiadas, Maria, agora cria asas, a conquistar o espaço. Independente e visionaria, aceitando desafios, adaptando-se naquele novo lugar. E do alto, avistando-se na terra, a transitar, encontra os ratos a roer o que encontrar... E o macaco brincalhão imitando o gavião, pula de galho em galho, sem temer cair ao chão...  E Maria sem entender, como se via animal, continua a observar como se estivesse em um grande cafezal... Às vezes uma águia, voando nas alturas, outras vezes caia em terra, e de forma carnívora, a engolir outro animal. E nessas alternâncias, motivada se via, na busca de entender como poderia - ter bicos afiados com, garras fortes e visão de longo alcance. Assim, a rapinante, de forma agiu  na captura, do chão alcançava os céus em questão de segundos, como se fosse sua existência os minutos de mudanças... E num vôo desses de rapina, a águia bate as asas acordando Maria.

Albertina Chraim


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

23. MARIA ALADA E OS TIJOLOS DE ESPONJA


Maria, nem bem adormecia, depois de mais um dia,  se põem  a sonhar - Via-se  numa armadilha em uns poucos metros quadrados. Não  reconhecia aquele lugar, que de luz nada havia, apenas as paredes se moviam. Perguntava-se mesmo em silencio, como chegou naquele lugar. Olhava a sua volta, não encontrava a saída e ao ver-se espremida    entra em prantos... As paredes eram duras,  de temperatura fria e Maria então via-se sem saída... Cada vez as paredes  aproximavam-se de Maria. Só resta-lhe então ajoelhar-se naquele chão a rezar o Pai Nosso. De repente  ouve um estrondo, e as paredes  se transformaram  em tijolos de esponja. Maria então, incrédula, com o que acontecia, vê uma porta a se abrir e uma voz a lhe chamar. Venha aqui pra fora! Vamos conversar, pois você presa a esse cômodo, não lhe pertence esse lugar! Maria assustada, sem ver o que ouvia... Aproxima-se daquela porta... Olha para fora e vê um belo jardim, com flores e muitas arvores, com pássaros a cantar... Maria sente a aragem e a brisa  no ar... Observa uma borboleta a voar naquele jardim. Maria se aproxima da linda borboleta que pousa em suas costas  grudando-lhe as asas. Agora Maria pode voar. Ao sentir-se, então alada... Bate suas asas a levitá-la daquele chão. Aos poucos, vai ganhando os ares, afastando-se do chão... Sente-se em liberdade, contemplando o horizonte, planando   no espaço, olhando além dos montes. Viajou por tantos espaços,  conhecendo tantos lugares. Maria só não sabia que já estava amanhecendo o dia, e  que o sonho iria acabar... E Maria então, espreguiçando-se em sua cama, abre os olhos devagarzinho, era hora de acordar.
Albertina Chraim

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

22. MARIA,O PERFUME E O TAXISTA



Amanhece o dia, Maria em sua correria, segue seu ritual matinal. Toma seu banho, seca os cabelos, passa seu perfume, arruma-se e logo em seguida chama o rádio táxi.   
Eis que, como de costume sempre que precisa prontamente é atendida.
Mas, naquela manha algo pareceu-lhe fora do habitual - o taxista estaciona e rapidamente,  num ato de cavalheirismo, abre a porta do carro e gentilmente faz o gesto para que Maria entre. Naquele momento, em questões de segundos, Maria meio incrédula, agradece pela gentileza. Acomoda-se no carro, dá o endereço de destino e o silêncio acompanha o taxista e a passageira, que discretamente observa o homem de aparência cansada, de jeito simples e gestos nobres a dirigir o táxi.
 De repente, em meio ao silêncio que se pronuncia no trajeto, Maria escuta da voz quase silenciosa do taxista, o balbuciar de algumas palavras quase inaudíveis:
    - Discreta, clássica – Um tanto insegura pela própria beleza – introspectiva e séria. Leva a vida com leveza – sua forma de ver a vida deixa os outros mais alegres. Num homem, valoriza o olhar, o sorriso e as mãos. Tem um espírito de luta e determinação, uma guerreira, com doçura e suavidade. Otimista, possui um jeito próprio de se vestir,  e na maquiagem, a usa apenas para dar um ar mais saudável na aparência. Gosta de conforto, e seu traço mais forte é ser severa consigo mesma quando busca algum objetivo. Um tanto displicente para as coisas supérfluas. Sensível, repensa suas atitudes. Não teme a vida e cultua o valor da alma, não se importando com a beleza da carne.
Maria, ao escutar tais palavras, olha para o retrovisor e o homem continua a falar, sem que lhe direcione o olhar, na continuidade de seu monologo que mais parecia estar recitando uma poesia...
- Não se reprime, tem seu jeito autentico e gosta de estar com pessoas, pois acredita que tira da convivência elementos para construir sua própria personalidade. Tem um porte de rainha, gosta de ser admirada, e faz por merecer.
        Maria, ao ouvir aquele monologo, interfere nos pensamentos do taxista:           O senhor esta falando com alguém ou de alguém?
         - Senhora, estou interpretando a fragrância que está no ar...
         - Que Fragrância senhor?
         - Issey Miyake.
         - Estou cansado, trabalhei a noite toda e essa é a minha ultima corrida.              Agora, depois de deixar a senhora no seu trabalho, vou tomar meu banho, e dormir até ao meio dia e depois retomar ao batente. Mas é muito bom ir dormir com esse cheiro bom, a senhora além de bonita é cheirosa.
          Meio encabulada, Maria dá um leve sorriso, de canto de boca, agradece a gentileza do taxista. E deseja-lhe um bom descanso.
- A senhora usa o mesmo perfume por muito tempo! Exclamou o taxista.
       Sim eu gosto de usar o mesmo perfume ate acabar. Somente quando acaba eu troco de fragrância... Como o senhor sabe deste detalhe?
        - A senhora já pegou o táxi comigo outra vez, e estava usando o mesmo perfume. E as pessoas que repetem o perfume também são pessoas que gostam de ser o centro das atenções por possuir um grande magnetismo, com uma personalidade bastante forte. Muitas vezes, podem parecer um pouco orgulhosa e arrogante, mas na verdade, são mal compreendidas por ter um temperamento ardente e apaixonado.
       O silêncio volta a imperar no táxi entre o motorista e a passageira. Nesse momento o táxi chega ao seu destino - Maria, paga-lhe o trajeto e agraciada pela gentileza do taxista, ao se preparar para sair do carro, sente exalar no ar uma mistura fresca e sensual de almíscar e cedro amadeirado, com notas vibrantes cítricas - uma irresistível combinação de acordes marítimos.
        

 Albertina Chraim

domingo, 21 de julho de 2013

21. IMIGRANTES ERRANTES


Era um baile desses de carnaval e a bebida corria solta, nas mãos daqueles jovens que dançavam a juventude naquele salão.
Mas, o infortúnio daquela noite não previa que o destino de dois jovens estaria marcado para o resto de seus dias.
Ele, moço bonito, sentiu-se enciumando com outro jovem que galanteou a sua amada.
Nesses rompantes da juventude desfere um golpe certeiro e tira a vida do tal galante.
Agora desesperado, sem acreditar no que havia feito, abraça sua companheira, que num passe de mágica tenta socorrer aquele corpo já desfalecido.
E a música silencia aquele final de noite que acabou com a cantoria...
E o casal em parceria, olha um para o outro sem saber o que faziam.
Ela então temerosa, segura a mão do amado, pedindo-lhes desculpas por ter provocado...
E em meio ao silêncio, ao longe se escuta a sirene a aproximar-se do corpo e os dois jovens fogem para não serem alcançados.
E os pais daqueles jovens, agora assassinos, homens afortunados, carregam uma barcaça de sedas e suprimentos e colocou-os a correr mundo.
Essa seria a penitencia – prefeririam ver os filhos à deriva, do que vê-los enforcados.
Foi assim que naquela noite, daquela pacata cidade, de um país bem distante, que se inicia a saga daqueles imigrantes...       
Foram logos meses a desbravar os continentes, atravessando o oceano em meia tempestade e a tantas correntes.
Varavam as noites, chegavam os dias, e os suprimentos já finando, e as estruturas em avarias...
Atravessaram os continentes...  Em meio às tormentas já não sabiam se sobreviveriam nem o que encontrariam pela frente...
        Depois de alguns meses a deriva, sem rumo e sem guarita, em meio a tempestades, com o barco a deriva, pagando as duras penas o peso da incoerência.  Sem ver uma alma viva, cansados e já famintos, ajoelharam-se em penitencia implorando perdão por ter tirado uma vida.
       E eles ainda jovens, adormeceram inocentes declarando-se desejosos de recomeçar a nova vida.
       Não se sabe quanto tempo eles adormeceram, mas ao acordar, avistaram o mar em calmaria e a proa apontava para uma baia.
    Atracaram sua barcaça naquela nova ilha, desbravando aquele deserto, e a vida retomariam.
      E aquele novo lugar, agora habitado tornou-se a morada dos novos imigrantes.
    E o lugar foi crescendo – como passagens dos viajantes errantes. Ate hoje não se sabe o segredo dos primeiro habitante.

Albertina Chraim

terça-feira, 16 de julho de 2013

20. MARIA E O ERMITÃO


Maria subiu o morro, entre trilhas e pedras. Não tinha pretensão de se ir muito além.
Talvez avistar as linhas do horizonte a encontrar-se na imensidão daquele vasto mar que se perdia na sua direção como se estive a procura de alguém.
Parou para mirar aquele descampado que abrigava algumas pedras em total solidão. 
Ao olhar tal paisagem se perdia em pensamentos e de repente, por detrás daquele espaço vê surgir um ermitão.
De barbas quase ruivas, mal trapilho - com um cajado em sua mão, e os pés desnudos tocavam sua pele ao chão.
Maria já não sabia se tinha voltado aos tempos, se era realidade ou apenas ilusão...
E ele assustado, sem ter reação, o homem ergue a cabeça e sai em disparada.
Maria curiosa e sem ação, aproxima-se do local como que estivesse em imersão.
Abrindo a clareira com a palma de sua mão...  Em meio ao matagal depara-se com aquele homem mais parecendo acuado a querer esconder-se, mesmo sem opção.
Maria reconhece aquele tom de voz que lhe implora para que não haja nova aproximação.
Assustado, meio que de costas, em posição de retirada espera a reação de Maria, que impiedosa não respeita o apelo do ermitão. Ao virar-se então de frente, não acreditava no que sentia.  Sente um frio na barriga, ao depara-se com o que via...
Reconheceu aquele homem que há tempos não o via... E o coração de Maria agora também acelerado, fita aqueles olhos, que já não lhe era mais estranho.
Foi assim que Maria reencontrou aquele homem. Foram se aproximando como quem descontrolados... E os cantos dos pássaros em sinfonias os mantinham acordados.
Maria toca-lhe a face com a mesma ternura de alguém cujo tempo jamais tivesse se afastado...
E aquele homem, agora rude, de tez queimada do sol, com suas vestes quase rasgadas, em total abandono, ajoelha-se a sua frente e segura-lhe firme sua mão, a implorar que vá embora.
Maria não entende como pode estar ali , diante daquele homem, que um dia lhe fez juras de amor e por uma desilusão, alojou-se naquela caverna afastando-se da civilização.
Foram anos de procura, de vazio em seu coração, pois o homem que amava agora segurar-lhe a mão...
Viajou por tantos lugares, a procurá-lo em cada canto e quando não mais acreditava, estava ali na sua direção.  
Ainda meio sem jeito, a perguntar-lhe os motivos, o homem de voz bonita diz que foi tudo ilusão... Que o amor o desacomodou-lhe, tirando-lhe a razão...
E agora já mais calmos, desbravando aquela caverna Maria escuta de longe o alarme do despertador anunciando que já era hora e que o sonho acabou.



Albertina Chraim


sábado, 13 de julho de 2013

19. MARIA E SEU AMOR CONFESSO



     E ele chegou de mansinho para não acordar Maria, que de olhos fechados buscava seu sono naquela noite fria. Chegou caladinho, pois ela merecia depois da fadiga daquele longo dia. Maria de longe ouvindo o pulsar de seu coração, adormeceu em devaneios com o calor daquele corpo a cobri-la para os restos de seus dias. E ele aconchegou-se no corpo de Maria ficando de conchinhas, naquela noite fria.
O fogo da lareira, ainda em brasas vivas, aquecia o teto de dois enamorados. E os alicerces daquele casarão sustentavam as paredes dos dois corações. 
Ele buscou a mão de Maria e segurando-se - seguro - adormeceu em seus braços.
Como quem embalados pelo amor perderam-se no tempo sem saber se era madrugada ou se já amanhecia o dia.
Maria não sabe dizer o valor deste gesto que mesmo de forma muda ecoa nos cantos daquela casa - Eu te amo – confesso.

Albertina Chraim

segunda-feira, 8 de julho de 2013

18. MARIA ESCREVE UMA CARTA DE AMOR


Escrevo essa carta, talvez pela ânsia de  entender aquilo que  já nos é entendido, porem algo que nos vem de outra ordem, uma mistura de misticismo, carência, ânsia de viver. Um desbravamento da ordem das entranhas. Um jogo de sedução em forma de corpo e um corpo envolto nas emoções. Se tocarmos em frente, teremos  o dom de ser feliz. Mas, se todos somos capazes de ser felizes, então onde estará o dom de ser capaz? Onde encontremos a fonte da felicidade senão a encontramos dentro de nos mesmos?
Não, não é fácil equilibrarmos pregos na construção de nossa própria  identidade. E no momento, só nos resta ser a própria obra na reconstrução da busca de nos melhorar a cada dia.
Quantas pessoas por nos  já passaram, talvez com  o mesmo olhar de admiração que tenhamos um para com o outro. Mas parece que somente nesse momento, nos demos o direito, nos permitimos a essa ousadia... Nos admitimos para essa peripécia, como se a vida nos convidasse a brincar um pouquinho  mais e vivenciá-la de uma forma mais irreverente. Somos adultos, somos pessoas, as vezes jovens velhos e  outras, velhos jovens. Não é tão simples driblar os sentimentos  quando a razão nos da uma rasteira nos deixando a mercê das emoções e nos fazendo acreditar que o amor vem sempre na contra mão.
Tudo parece tão simples, ao mesmo tempo que nos parece tão fácil. Tudo parece tão complicado quando poderia ser muito simples.
Se tu queres, eu quero, se eu quero, tu queres. Será ânsia de viver, será desejo carnal, será carência de toque, de olhar nossos olhares e ter certeza que tem o outro na suas mãos?
Não sei, não sei, mas  alguém disse um dia, que a Paixão seria algo da ordem do descuido de sim mesmo... Da ordem da negligencia da razão. Algo que vem para justificar nossas insatisfações pessoais, nosso desejo de repensar nossa própria identidade.
E assim vamos pensando o que a vida faz conosco. Muito alem de viver um dia de cada vez, vivemos varias historias  no mesmo dia... E vamos construindo nossos cenários de experiências e memoriais.
Fico  molhada, fico excitada, só em pensar, me sinto acariciada o tempo todo. Me sinto amada, me sinto querida só em te ouvir, só em relembrar teus sussurros sorrateiros no pé de meu ouvido.
Você se encaixa em mim e eu me encaixo em você, como se fossemos os poros de nossas peles.
Sinto teu cheiro, teu hálito  e tudo me lembra sexo, e ao relembrar o sexo, me recordo do  tom de tua voz quase moleque,  me tirando do rumo. 
E nesse rumo eu me aprumo como se estivesse sem rumo. E assim você me chega como quem de repente, com sorriso bonito, olhos tristes e banho tomado, cheiro no corpo de homem sedento de carne.
E eu, tão segura de mim me deito agora na tua cama e nosso corpos em algazarras cometem o pecado. Não, não é brincadeira, mas parecemos duas crianças, brincando com coisas de adultos.
E la no fundo estamos a escutar nosso corações a nos alertar... não brinquem com fogo, alguém pode se queimar. Sempre soube que há de se ter juízo para servir de exemplos para os mais novos...  Mas, que exemplo posso dar se estou gostando de  me arriscar?
Ë, é ousado esse momento, mas me ensinaste  a sentir falta de ti, me ensinaste e te querer sempre mais. Teu jeito atrevido, de não me dar ouvido, me agasalha a alma tão sedenta de calor.
Se me encosta a pele,  sinto arrepiar-me os poros, e em minha boca sinto o teu sabor. Não, não posso dizer não a esse sabor de vida, mas também não  posso querer-te como cicatrizes de uma ferida daquelas que deixam marcar como recordação do lado cruel da vida, pois se foi para ir embora, por que veio?
Por que as coisas são tão difíceis de administrar quando o assunto envolve o coração?
Não, não posso me apaixonar, não  quero te amar, não quero me acostumar, não quero tantas coisas  com medo de nos machucar. Só em pensar que nesse momento podes estar em outros braços vem-me o frio na barriga como a quem me dizer que é hora de me retirar-me. Mas levo comigo o sabor de tua carne. Então meu amor, se for para sair saia de mansinho tal como quem chegou me desconsertando, tirando-me de meu rumo. Pois mesmo longe de ti terei a variadas formas  de  fazer homem amando.

Albertina Chraim

quarta-feira, 3 de julho de 2013

18. MARIA É ESCRAVA DAS PALAVRAS





      Sou escrava das palavras. Elas exercem um fascínio de tamanha  proporção que muitas vezes chegam a ser maior do que própria dimensão.
     Não sei de onde isso me vem. Mas, habituei-me a colhê-las como quem se encontra num vasto pomar, saboreando os frutos de cada estação - ou quem sabe perde-se num deserto no meio da solidão.
    Ao atravessar o deserto das palavras, deparei-me com a ilusão de que, cada uma delas, quando profanadas – foi no sentido de “atravessar”, - que aprendi a escutá-las. E como  que num oásis,   me adentram como fagulhas  aquecendo-me a alma.
     Confesso que nessas andanças, não foram poucas as palavras que dilaceradas, outras muitas amadas escreventes, me fizeram vida.
     Palavras de ordem, outras  tantas de desordem...
     Palavras, sempre as palavras! As ditas, as não ditas, as santas quem sabe, as mal ditas - as ouvidas outras apenas sentidas. As palavras doces, as palavras sem vida. Palavras soltas, e tantas palavras esquecidas...
     Palavras que me desconsertam quando em concertos me acertam.
     Por meio das palavras ouço os tons de tantas vozes, e quando mudas, amadora me deito em cada gesto alinhavando a conversa matinal acariciando meu corpo.
     Tantas palavras doces, sorrateiras, as palavras safadas desordeiras, - tantas as palavras que não cabem em explicação.
     Somente aprendemos a escutá-las quando se perde a razão.
     Às vezes lúcidas, às vezes apaixonadas, a palavra tem peso como o amor que em surdina desequilibra a razão.
     Palavras soltas trazem estragos, nos expondo ao perigo, porem quando juntas constroem tanto abrigos.
     Talvez seja a palavra o bem maior de toda uma civilização, quando por meio delas são tomadas tantas decisões.
     Ah!
     As palavras, coisa do tão feminino - se, homem ou mulher, diante dela se desmancharam tantos castelos.
     Um “sim” ou um “não” - não faz a diferença - quando as palavras são jogadas para fora da alma, cai sobre terra os desejos do coração.

   Albertina Chraim

terça-feira, 2 de julho de 2013

17. MARIA TEM DÚVIDAS - SERÁ POR AQUI QUE SE VAI PRA LÁ?


       Nossa decisão pessoal não depende do impulso do Outro, justamente por se tratar de algo tão intimo. 

      Porem, às vezes, a forma como o Outro nos coloca nos ajuda a refletir melhor e de algum ângulo que não nos é percebido.             

     Penso muito na colheita – que se remete a necessidade do plantio, pois sem ele não há frutos.Eis que no desejo, num passe de mágica surge a semente a nossa frente.

     E agora:
     Desprezá-la ou torná-la fecunda?
     São escolhas que fazemos ao longo de nossas vidas... E se desejarmos, toda semente será fecunda.            

     Se, desprezá-las nunca saberemos quais frutos virão...
     Se adubá-las estaremos de frente com o fruto, às vezes nem tão doce, às vezes nem tão amargo, mas saberemos que plantamos.

     E a orientação - tão divisora de águas na vida de tanta gente nos coloca em algum momento diante do dilema das tomadas de decisões.

    O que significa “tomada de decisões”?

    Não nos damos conta que na maioria das vezes as decisões já estão tomadas e apenas não temos coragens de assumi-las.

    E como desbravadores dos mares, desbravadores das estradas, desbravadores dos ventos, em cada tomada de decisão respiramos o sabor de recomeço.
    Se, por um lado, ao recomeçar nos deparamos com o desconhecido, por outro lado nos afastamos daqui que já nos é conhecido...

     Mas o tempo chegou e é preciso nos desacomodar.   

    Ha de se ter consciência de onde queremos chegar, estar, ou ficar.Será que daqui ha algum tempo tudo poderia ser melhor?

    E o que a vida nos cobrar diante do agora, se não for tomadas de decisões para o amanha?

    Os resultados vêm silenciosamente assim como a semente que também silenciosamente vai brotando da terra -  e num passe de mágica por meio do tempo vai-se germinado o broto, transformando-se em fruto preparando-se para a colheita..."debaixo do céu há um tempo para cada coisa!" 

      Nesse tempo de buscar, “é o agora ou nunca” - pois é no presente que se planta o futuro.

     E o futuro esta nas leituras que você faz, nos valores que abraça, nos amores que você ama que determinarão sua colheita futura.

     De que estabilidade está precisando então?   

    Financeira?

    Emocional?

    Social?

   Profissional?

    São tantas as estabilidades necessárias que parece impossível alcançá-las todas ao mesmo tempo. 

    E nenhuma dessas estabilidades pode andar separadas umas das outras - muito embora por uma dessas causas precisemos fazer abandonos.

    E nas tomadas de decisões, o que nos custa, nunca é a decisão em si, e sim os abandonos que precisamos fazer.
    E de repente, nos sentimos preguiçosos para assumirmos esses abandonos. 

     Muitas vezes o que nos custa é o abandono de nós mesmos. Por outro lado, sem cultivo, a vida não nos é real – sementes de hoje, frutos de amanha e os frutos de hoje nos darão as sementes do amanha.

    Junte o tempo atual e faça uma analise do que te é seguro aqui, e o que você terá de real por lá.      E o que te oferece segurança, lá estará o teu futuro aqui? 

    Olhe os Teus, e veja o que te pedem, mesmo que se fechem muitas vezes em silencio. Olhe para você é veja o que mais te preocupa amanha.

    Veja o que é possível conciliar entre o desejo e a necessidade.  Junte o par – conversem sobre realidades, fantasias, sobre o presente, e que nesse consenso encontrem a melhor decisão. Nos momentos de tomadas de decisão não nos basta um “tu que sabes”.
     É preciso muito mais. É preciso – um “estou junto nessa caminhada". 

    Seguindo ou ficando - tenham juntado a certeza que é o melhor caminho, mesmo que não se saiba que é por aqui que se vai pra lá.

    Há varias formas de distância, e por mais que pareça, a distância tem duas linhas paralelas, e toda paralelas, nunca se encontram - uma para aproximar-se e a outra para afastar-se.
    Às vezes, estamos tão juntos que não percebemos  a distância -  outras vezes,  estamos tão distantes que nos percebemos juntos.

    Nossos entes nos são tão sagrados, que por eles mesmos, talvez os abandonos se façam “o melhor presente”. 

    Apaixonamos-nos, e somos por si só apaixonantes - e por tantos motivos não nascemos para ficar sozinhos. 

    Precisa o homem, precisa a mulher, precisa-se do sexo, do toque, do colo, do amor, das brigas, das brincadeiras, precisamos nos sentir vivos, amados, cariciados, desejados. 

     Precisamos acima de tudo isso, num momento de decisão que as responsabilidades nãos nos recaia sobre uma única sentença - a da condenação.
     Precisamos da segurança de que o Outro esteja junto, não para condenar o que deu errando, mas para que nos aponte onde podemos melhorar,  antes mesmo do erro, e quem sabe se melhorarmos possamos nos encontrar no mesmo lugar.
     E assim sabemos que já não se trata de tomar decisões ou fazer abandonos. Trata-se de acharmos alguém  queira por inteiro nos desacomodar.
     Com a certeza que é por aqui que se vai pra lá.

Albertina Chraim

segunda-feira, 1 de julho de 2013

16. SARAU - CARTAS DE AMOR - PROJETO ESCRITURANDO


A chuva fina e o frio não indiferentes, cortavam as vestes que cobriam  nossos corpos adornados  pelas “cartas de amor”.
No vão da janela em forma de pontes nos uniam a  solidão  da ilha, ao vasto continente, nos apontando tantos horizontes.
E o sarau escriturando falava de  “amantes passageiros” e das cartas de tantos amores que caídas em outras mãos tornam-se cifras escritas do amor em camadas.
E os traços das vestes, em rendas camisolas, retomavam as moradas pretas de nossas memórias meninas.
E as rocas quebradas, cerzindo cada mulher que há no coração da amada, juntavam-se as costuras, unindo pedaços de vida como quem se monta as colchas de retalhos.
 Em cada fio que tecíamos falava-se também  das “cartas de desamor”,  e do quão o amor nos eleva ao ridículo, e que  - se fossemos  buscar o sentido desta palavra, o encontraríamos na  prateleira do riso.
Foram tantos os assuntos em volta das “cartas de amor”, ou quem sabe o amor estava as nossas voltas, em forma de bom-bom, com sabor de “amor carioca”. Aquele amor chafariz, que nos cobre de cortina d’água, muitas vezes em esguichos, ou em forma de cascatas.
E os ovos de madeira,  adornos de nossas avós - que costuravam as meias do homem  amado,  antes dos escalda pés, nos levaram a conclusão, que, o amor, jamais muda de lado.
Quantas  meias costuradas em nome do amor, e quantas cartas remetidas não alcançaram o desejo do emissor...
E foi assim naquele final de tarde, com sopa de capelete, que eles se encontraram no sarau escriturando que falava de “cartas de amor”.
Falou-se do fogo, também  de recomeço e que o sentido da queima - vem do desejo que das cinzas,  tal qual Fênix   - ressuscitante é  o amor.
E elas, muito embora ainda meninas, nessas coisas do amor, de falas apaixonadas, eloqüentes manifestavam-se representante da mulher...
Espere !
Não, não era coisa do feminino, de mulheres sonhadoras, também havia um homem, falando coisas do amor... E ele, que mesmo acabrunhado no silêncio de  seus olhos se reportava aquele ultimo beijo, ainda sentido ao perfume da amada.
Então dei-me conta que o amor é algo serio que perturba os sentimentos nos tirando do hemisfério – indo muito alem dos gêneros... não se importando ser másculo ou feminino, quando ele chega  se acamando em forma de coração  faz o homem ou a mulher perder-se de vez  da razão.
Feliz é o coração que um dia, mais que receber, autorizou-se a escrever uma carta de amor, mesmo que nunca a tenha chegado a mãos de seu amor.


Albertina Chraim

domingo, 30 de junho de 2013

15. MARIA ESCREVE UMA CARTA DE AMOR


Estou escrevendo essa carta, talvez pela ânsia de  entender aquilo que  já nos é entendido, porem algo que nos vem de outra ordem, uma mistura de misticismo, carência, ânsia de viver. Um desbravamento da ordem das entranhas. Um jogo de sedução em forma de corpo e um corpo envolto nas emoções. Se tocarmos em frente, teremos  o dom de ser feliz. Mas, se todos somos capazes de ser felizes, então onde estará o dom de ser capaz? Onde encontremos a fonte da felicidade senão a encontramos dentro de nos mesmos?
Não, não é fácil equilibrarmos pregos na construção de nossa própria  identidade. E no momento, só nos resta ser a própria obra na reconstrução da busca de nos melhorar a cada dia.
Quantas pessoas por nos  já passaram, talvez com  o mesmo olhar de admiração que tenhamos um para com o outro. Mas parece que somente nesse momento, nos demos o direito, nos permitimos a essa ousadia... Nos admitimos para essa peripécia, como se a vida nos convidasse a brincar um pouquinho  mais e vivenciá-la de uma forma mais irreverente. Somos adultos, somos pessoas, as vezes jovens velhos e  outras, velhos jovens. Não é tão simples driblar os sentimentos  quando a razão nos da uma rasteira nos deixando a mercê das emoções e nos fazendo acreditar que o amor vem sempre na contra mão.
Tudo parece tão simples, ao mesmo tempo que nos parece tão fácil. Tudo parece tão complicado quando poderia ser muito simples.
Se tu queres, eu quero, se eu quero, tu queres. Será ânsia de viver, será desejo carnal, será carência de toque, de olhar nossos olhares e ter certeza que tem o outro na suas mãos?
Não sei, não sei, mas  alguém disse um dia, que a Paixão seria algo da ordem do descuido de sim mesmo... Da ordem da negligencia da razão. Algo que vem para justificar nossas insatisfações pessoais, nosso desejo de repensar nossa própria identidade.
E assim vamos pensando o que a vida faz conosco. Muito alem de viver um dia de cada vez, vivemos varias historias  no mesmo dia... E vamos construindo nossos cenários de experiências e memoriais.
Fico  molhada, fico excitada, só em pensar, me sinto acariciada o tempo todo. Me sinto amada, me sinto querida só em te ouvir, só em relembrar teus sussurros sorrateiros no pé de meu ouvido.
Você se encaixa em mim e eu me encaixo em você, como se fossemos os poros de nossas peles.
Sinto teu cheiro, teu hálito  e tudo me lembra sexo, e ao relembrar o sexo, me recordo do  tom de tua voz quase moleque,  me tirando do rumo.
E nesse rumo eu me aprumo como se estivesse sem rumo. E assim você me chega como quem de repente, com sorriso bonito, olhos tristes e banho tomado, cheiro no corpo de homem sedento de carne.
E eu, tão segura de mim me deito agora na tua cama e nosso corpos em algazarras cometem o pecado. Não, não é brincadeira, mas parecemos duas crianças, brincando com coisas de adultos.
E la no fundo estamos a escutar nosso corações a nos alertar... não brinquem com fogo, alguém pode se queimar. Sempre soube que há de se ter juízo para servir de exemplos para os mais novos...  Mas, que exemplo posso dar se estou gostando de  me arriscar?
Ë, é ousado esse momento, mas me ensinaste  a sentir falta de ti, me ensinaste e te querer sempre mais. Teu jeito atrevido, de não me dar ouvido, me agasalha a alma tão sedenta de calor.
Se me encosta a pele,  sinto arrepiar-me os poros, e em minha boca sinto o teu sabor. Não, não posso dizer não a esse sabor de vida, mas também não  posso querer-te como cicatrizes de uma ferida daquelas que deixam marcar como recordação do lado cruel da vida, pois se foi para ir embora, por que veio?
Por que as coisas são tão difíceis de administrar quando o assunto envolve o coração?
Não, não posso me apaixonar, não  quero te amar, não quero me acostumar, não quero tantas coisas  com medo de nos machucar. Só em pensar que nesse momento podes estar em outros braços vem-me o frio na barriga como a quem me dizer que é hora de retirar-me. Mas levo comigo o sabor de tua carne. Então meu amor, se for para sair saia de mansinho tal como quem chegou me desconsertando, tirando-me de meu rumo. Pois mesmo longe de ti terei a variadas formas  de  fazer homem amando.

Albertina Chraim

sexta-feira, 28 de junho de 2013

14.BEM DEVAGARZINHO

      

      
      Maria acreditava que aqueles   impulsos, aquelas fantasias, que se tornaram   tão reais, muito alem do que pensavam, do que queriam, fossem apenas devaneios, naquele baixar de noite na chegada do inverno
        Aproximaram seus corações tão devagarzinho,  como quem de  repente alguém os desacomodasse dos próprios ninhos. E sempre tão donos de seus sentimentos, se presentearam com o direito de viver esse momento. E das volúpias de suas mãos e do eco de suas palavras que vibravam em seus ouvidos os levando as alturas, ficou a certeza que a intenção deste sentimento é para que o amor os reconstruísse.  

        Não há amor que se sustente, nem paixão que perdure, se cada um se justificar nas razoes de tantas loucuras.
       Quem nos disse que os loucos não se amam, se a loucura do Homem é sinônimo da paixão?
      E com as volúpias de suas mãos percorrendo tantos caminhos, viveram tão intensos, sem medo da opressão.
      E num momento de lucidez, voltando a escalar o ninho, foi como se nunca tivessem sidos jogados rente ao chão.

      Olharam para o ninho como olhares resistentes, se iludiram que tenham entendido o sentido de uma paixão... Que pode ser passageira, se não for ilusão e muitas vezes ela surge para tanta reflexão.

       Em algum momento deste universo, há de haver uma explicação para que esse sentimento não os tire a razão.

       Seguiram suas vidas, cada um a seu modo, mas levaram este segredo, sentindo o cheiro que exalaram no toque de suas mãos, que percorreram seus corpos. Perderam-se nas caricias, e depois de algum tempo virou recordação.

       Foram se encontrando por ai, como quem nunca se tinham visto, muito alem de seus olhos ou que viveram essa paixão.

       Foram caladinhos, seguindo suas vidas gritando mesmo em silêncio – que, se um dia os empurrarem de novo de seus ninhos relembrarão como tudo começou - bem devagarzinho.


Albertina Chraim


quinta-feira, 20 de junho de 2013

13. ODISSEIA DE MARIA



E aquele dia, talvez devesse ter sido um dia igual aos outros, como todos os seus outros dias. 
Mas, não foi!
Eram turbilhoes de informações e os ventos sopravam sem direção.
As decisões não estavam tão claras e os desejos nem tão perfeito.  Mas, o dia se fez dia, e a noite parecia acordar.
E Maria então pegou-se em pensamentos e nas nuvens saiu a velejar...  Saiu sem saber a direção, muito menos que rumo iria tomar...   Seguiu seus instintos de fera protegendo a cria... De forma tão voraz, que a realidade a consumia em fantasias. 
Se, instintos são selvagens, para que tanta serventia, se no homem apenas habita - um Ser a cada dia?
Se foi sonho ou devaneio, Maria não pode precisar. Então, Maria mesmo dormindo, abriu seus olhos... Será que foi real ou apenas ilusão, aquele dia que devesse ser igual a qualquer outro?
E do fogo se fez vida, e da vida, a paixão. Mas os segundos não perdoaram Maria...
Não foi fácil definir o que estava se passando, naquele dia... Maria projeta-se nessa odisséia entre cenários de ilusão...    
E ele beijou-lhe a boca, apertando-a contra o peito... Não se sabe de onde veio, nem qual a sua direção, e Maria entregou-se a ele como se nunca tivesse lhe dito  - Não!
Com o vento batendo-lhe a porta...  Em rajadas de solidão, Maria vê afastar-se - mesmo segurando suas mãos...
Foi assim aquele dia, no qual Maria perdera a razão... 
Deixou-se se levar... 
Poderia ser um dia qualquer, desses que não precisa ser perfeito...
E Maria ate hoje relembra de sua odisseia  -  em sonhos  vai ate as nuvens e quando acorda, toca seus pés ao chão...



Albertina Chraim