domingo, 24 de novembro de 2013

26 .MARIA E OS OLHOS DO MENDIGO


        Conta a historia, que a morada de Maria já foi palco de uma guerra fria. Se o mundo era pequeno, a cidade, menor ainda. Com suas ruas de paralelepípedos, as cadeiras nas calçadas, e nas praças a criançada a correr desvendavam o mundo.  Era assim aquela cidade do interior. E Maria a acreditar que a vida seria muito,  muito mais, do que se via. E todas as tardes, a passear naquela praça avistava um mendigo sentado solitário. Ficava a imaginar, qual solidão daquele homem, que parecia vivo morto, sem qualquer motivação. E num desses dias, de total curiosidade Maria começou a olhar os olhos daquele homem. E assim percebeu que algo acontecia. Pois, de um dia para o outro, alguém lhe fitava a face, como quem a buscar razão.
Os dias se passaram no final daquelas tardes. - Maria avistava o mendigo sentado na praça, acompanhado de um velho amigo, que se, alguém aproximasse, atacava o curioso com um forte latido.
Era impossível não perceber que algo estranho se passava, pois ao aproximar-se daquele homem, algo a desacomodava. Então, um dia, enchendo-se de coragem - com um olhar amistoso, conquista o quatro patas, e daquele homem se aproxima. Pede-lhe licença, para sentar-se naquele banco, mas o homem rapidamente  se afasta.
Não foi ainda  dessa vez, que Maria matou sua curiosidade, pois o homem em questão de segundos endurece sua face e se some no tempo como que no ar se desintegrasse. Maria incrédula do que estava acontecendo -     Quantas vezes por ele passava, e esse, se permanecia calmo e sereno. Mas, quando tenta se aproximar, nega-lhe qualquer aceno.
      Agora, Maria ficava sem entender o que havia com aquele homem e o que estava a esconder. Foram assim todos os dias e Maria agora se via intrigada com aquele mendigo sentado naquela praça, como se fosse um mistério a percorrer. Resolveu então, trazer-lhe um prato de comida, mas o homem assustado mais uma vez se afasta, sumindo no tempo como se fosse uma assombração, um fantasma.
      Maria intrigada, senta no banco da praça no lugar daquele homem a catar alguma resposta. Não estava acreditando no que acontecia, já não sabia que o que se passava – se seria real, ou fantasia. Agora se sentido ela - a solitária.
Em questão de segundos... Sente-se transportada para dentro de sua própria casa, que lhe parecia agora estranha - um lugar gélido e frio, com pessoas  diferentes, num cenário de arrepio. No meio de tanta gente que pareciam distantes, observa o mendigo da praça, agora rico e elegante. Sentado a uma mesa daquelas de muita gente, rodeado de empregados a servir-lhes farta refeição.
       Do lado, muita algazarra, numa festa a fantasia, muito vinho, muita gente, uma intriga se inicia. O motivo, nunca se soube, mas aquele mesmo homem, que na Praça Maria via, era o homem que um golpe certeiro o peito alguém lhe feria. Não se sabe quem o fez, naquele naquela festa a fantasia, nem qual motivo teria... Mas foi assim, que Maria descobriu que a sua morada, há muitos anos atrás, teria sido palco de uma guerra fria.
       Maria então, acorda daquela sensação, corre até a sala de sua própria casa, abre-lhe a cortina, deixa entrar o sol, vê as crianças a correr, em volta de sua mesa, felizes a brincar. Pois tudo que havia acontecido, não passava de estranho sonho. Da janela  de sua casa, avista um andarilho, que passava solitário  do  outro lado da praça, trazendo nas costas um fardo, e ao seu lado caminhando sossegado, seu fiel e amigo cão.


Albertina Chraim

sábado, 23 de novembro de 2013

25. MARIA SAI A FRANCESA


          Maria, caminhava pela vida, como sempre, distraída para as coisas tão banais. E numa dessas esquinas que se vê dividida, encontrou uma, ate então, amiga, a lhe gracejar belo sorriso. Desses que ao abrir-se se esvazia a alma, engolindo o espectador do pescoço ate o umbigo.  E numa dessas conversar de corredor, Maria escuta o que ate então era velado como se fosse um segredo para olhos de mercador.
- Maria! 
-Tua luz brilha, tua estrela é radiante e isso  ofusca as pessoas ao teu lado, deixa-as como meras figurantes...
Maria, sem entender o que estava se passando, dá um sorriso de lado, como a desejar que se apague aquele instante. Os segundos de silencio atravessaram alguns minutos... E sem entender, Maria é pega de surpresa pelo teor daquela conversa, sem pé e sem sentido, e cheia de resíduos...
Senta-se  ao chão para buscar a razão de tamanha  insensatez.  E o silencio permanece nos olhos de Maria. Mas, a pessoa continua a sua profecia.  
- Você é estrela, aparece em todo canto, fica difícil conviver com alguém que ofusca do Outro, o encanto.
Maria, em silencio a escutar o que ouvia sente que de onde veio a fala,  era como se estivessem a jogar-lhe na cara,  um  balde de água fria.
     Sem entender, o que estava acontecendo, Maria, comedida, mede as palavras para não desferir ofensas para aquela fantasia. Então, em questão de segundos, de surda se veste  como que a transformar as falácias em confete.       Mas, a pessoa não se basta e diante do  silencio se sente poderosa a continuar aquela fala. 
- Você é feliz, o marido mora longe, tens dinheiro e és rica, podes sorrir a todo instante.
E não para por ai, o desabafo da colega que  juntando Maria no canto consegue descarregar suas quimeras.         
Maria indigna-se, com o que estava a ouvir  daquela conversa de ventarola que  dava vontade de dormir.  Então  pede desculpas por não saber  o que dizer,  pergunta o que  esta acontecendo e o que realmente a pessoa quer dizer... 
Agora, a pessoa em silencio,  fita os olhos de Maria que por segundos, sai dali, e da volta ao mundo – percorre tantas leituras que fez do humano, e busca entender o que esta ali, diante dela, literalmente se passando.  
O silencio, dominador  daquele momento, desacomoda Maria  daquele pensamento, a pensar no que poderia responder. 
Como  pode, a sua identidade, ao Outro fazer sofrer?
Pensou nesse marido, que  nunca esteve distante, pensou em qual riqueza, que não seja ouro ou diamante. E assim Maria,, acreditando na fragilidade daquela humana, pede desculpas por existir. 
E numa tomada de decisão, para não estrangulara as relações,  vai saindo à francesa, jamais em tom de despedida, com a certeza que ao afastar daquele espaço vai dar a chance para outros  polirem suas estrela.

Albertina Chraim

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

24. MARIA E A AVE DE RAPINA


Maria encontrava-se enleada no transito daquela cidade, tão provinciana no gelo do inverno, que  transformava-se em inferno no calor de seu verão. Perdia-se nas características daquela cidade bucólica, ao ouvir as buzinas dos carros como quem a pedir passagem junto à população. Ouve na radio, as noticias do dia – mas, seu pensamento voa longe em outra direção... Vê distanciar-se o corpo da alma, em total comunhão - em meio a tanta, gente naquele anunciar do verão... Bem que poderia nessas horas, transformar-se em uma ave de rapina, com desejos da carne e visão de longo alcance. Quem sabe chegaria mais rápido ao seu destino. Em questão de segundos sente um vazio no ar. Seu corpo cria bicos e com garras afiadas, Maria, agora cria asas, a conquistar o espaço. Independente e visionaria, aceitando desafios, adaptando-se naquele novo lugar. E do alto, avistando-se na terra, a transitar, encontra os ratos a roer o que encontrar... E o macaco brincalhão imitando o gavião, pula de galho em galho, sem temer cair ao chão...  E Maria sem entender, como se via animal, continua a observar como se estivesse em um grande cafezal... Às vezes uma águia, voando nas alturas, outras vezes caia em terra, e de forma carnívora, a engolir outro animal. E nessas alternâncias, motivada se via, na busca de entender como poderia - ter bicos afiados com, garras fortes e visão de longo alcance. Assim, a rapinante, de forma agiu  na captura, do chão alcançava os céus em questão de segundos, como se fosse sua existência os minutos de mudanças... E num vôo desses de rapina, a águia bate as asas acordando Maria.

Albertina Chraim


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

23. MARIA ALADA E OS TIJOLOS DE ESPONJA


Maria, nem bem adormecia, depois de mais um dia,  se põem  a sonhar - Via-se  numa armadilha em uns poucos metros quadrados. Não  reconhecia aquele lugar, que de luz nada havia, apenas as paredes se moviam. Perguntava-se mesmo em silencio, como chegou naquele lugar. Olhava a sua volta, não encontrava a saída e ao ver-se espremida    entra em prantos... As paredes eram duras,  de temperatura fria e Maria então via-se sem saída... Cada vez as paredes  aproximavam-se de Maria. Só resta-lhe então ajoelhar-se naquele chão a rezar o Pai Nosso. De repente  ouve um estrondo, e as paredes  se transformaram  em tijolos de esponja. Maria então, incrédula, com o que acontecia, vê uma porta a se abrir e uma voz a lhe chamar. Venha aqui pra fora! Vamos conversar, pois você presa a esse cômodo, não lhe pertence esse lugar! Maria assustada, sem ver o que ouvia... Aproxima-se daquela porta... Olha para fora e vê um belo jardim, com flores e muitas arvores, com pássaros a cantar... Maria sente a aragem e a brisa  no ar... Observa uma borboleta a voar naquele jardim. Maria se aproxima da linda borboleta que pousa em suas costas  grudando-lhe as asas. Agora Maria pode voar. Ao sentir-se, então alada... Bate suas asas a levitá-la daquele chão. Aos poucos, vai ganhando os ares, afastando-se do chão... Sente-se em liberdade, contemplando o horizonte, planando   no espaço, olhando além dos montes. Viajou por tantos espaços,  conhecendo tantos lugares. Maria só não sabia que já estava amanhecendo o dia, e  que o sonho iria acabar... E Maria então, espreguiçando-se em sua cama, abre os olhos devagarzinho, era hora de acordar.
Albertina Chraim