domingo, 30 de junho de 2013
15. MARIA ESCREVE UMA CARTA DE AMOR
Estou escrevendo essa carta, talvez pela ânsia de entender aquilo que já nos é entendido, porem algo que nos vem de outra ordem, uma mistura de misticismo, carência, ânsia de viver. Um desbravamento da ordem das entranhas. Um jogo de sedução em forma de corpo e um corpo envolto nas emoções. Se tocarmos em frente, teremos o dom de ser feliz. Mas, se todos somos capazes de ser felizes, então onde estará o dom de ser capaz? Onde encontremos a fonte da felicidade senão a encontramos dentro de nos mesmos?
Não, não é fácil equilibrarmos pregos na construção de nossa própria identidade. E no momento, só nos resta ser a própria obra na reconstrução da busca de nos melhorar a cada dia.
Quantas pessoas por nos já passaram, talvez com o mesmo olhar de admiração que tenhamos um para com o outro. Mas parece que somente nesse momento, nos demos o direito, nos permitimos a essa ousadia... Nos admitimos para essa peripécia, como se a vida nos convidasse a brincar um pouquinho mais e vivenciá-la de uma forma mais irreverente. Somos adultos, somos pessoas, as vezes jovens velhos e outras, velhos jovens. Não é tão simples driblar os sentimentos quando a razão nos da uma rasteira nos deixando a mercê das emoções e nos fazendo acreditar que o amor vem sempre na contra mão.
Tudo parece tão simples, ao mesmo tempo que nos parece tão fácil. Tudo parece tão complicado quando poderia ser muito simples.
Se tu queres, eu quero, se eu quero, tu queres. Será ânsia de viver, será desejo carnal, será carência de toque, de olhar nossos olhares e ter certeza que tem o outro na suas mãos?
Não sei, não sei, mas alguém disse um dia, que a Paixão seria algo da ordem do descuido de sim mesmo... Da ordem da negligencia da razão. Algo que vem para justificar nossas insatisfações pessoais, nosso desejo de repensar nossa própria identidade.
E assim vamos pensando o que a vida faz conosco. Muito alem de viver um dia de cada vez, vivemos varias historias no mesmo dia... E vamos construindo nossos cenários de experiências e memoriais.
Fico molhada, fico excitada, só em pensar, me sinto acariciada o tempo todo. Me sinto amada, me sinto querida só em te ouvir, só em relembrar teus sussurros sorrateiros no pé de meu ouvido.
Você se encaixa em mim e eu me encaixo em você, como se fossemos os poros de nossas peles.
Sinto teu cheiro, teu hálito e tudo me lembra sexo, e ao relembrar o sexo, me recordo do tom de tua voz quase moleque, me tirando do rumo.
E nesse rumo eu me aprumo como se estivesse sem rumo. E assim você me chega como quem de repente, com sorriso bonito, olhos tristes e banho tomado, cheiro no corpo de homem sedento de carne.
E eu, tão segura de mim me deito agora na tua cama e nosso corpos em algazarras cometem o pecado. Não, não é brincadeira, mas parecemos duas crianças, brincando com coisas de adultos.
E la no fundo estamos a escutar nosso corações a nos alertar... não brinquem com fogo, alguém pode se queimar. Sempre soube que há de se ter juízo para servir de exemplos para os mais novos... Mas, que exemplo posso dar se estou gostando de me arriscar?
Ë, é ousado esse momento, mas me ensinaste a sentir falta de ti, me ensinaste e te querer sempre mais. Teu jeito atrevido, de não me dar ouvido, me agasalha a alma tão sedenta de calor.
Se me encosta a pele, sinto arrepiar-me os poros, e em minha boca sinto o teu sabor. Não, não posso dizer não a esse sabor de vida, mas também não posso querer-te como cicatrizes de uma ferida daquelas que deixam marcar como recordação do lado cruel da vida, pois se foi para ir embora, por que veio?
Por que as coisas são tão difíceis de administrar quando o assunto envolve o coração?
Não, não posso me apaixonar, não quero te amar, não quero me acostumar, não quero tantas coisas com medo de nos machucar. Só em pensar que nesse momento podes estar em outros braços vem-me o frio na barriga como a quem me dizer que é hora de retirar-me. Mas levo comigo o sabor de tua carne. Então meu amor, se for para sair saia de mansinho tal como quem chegou me desconsertando, tirando-me de meu rumo. Pois mesmo longe de ti terei a variadas formas de fazer homem amando.
Albertina Chraim
sexta-feira, 28 de junho de 2013
14.BEM DEVAGARZINHO
Maria acreditava que
aqueles impulsos, aquelas fantasias, que se tornaram
tão reais, muito alem do que pensavam, do que queriam, fossem apenas devaneios,
naquele baixar de noite na chegada do inverno
Aproximaram seus corações tão
devagarzinho, como quem de repente alguém os desacomodasse dos
próprios ninhos. E sempre tão donos de seus sentimentos, se
presentearam com o direito de viver esse momento. E das volúpias de suas mãos e
do eco de suas palavras que vibravam em seus ouvidos os levando as alturas,
ficou a certeza que a intenção deste sentimento é para que o amor os reconstruísse.
Não há amor que se sustente, nem paixão que
perdure, se cada um se justificar nas razoes de tantas loucuras.
Quem nos disse que os loucos não se
amam, se a loucura do Homem é sinônimo da paixão?
E com as volúpias de suas mãos percorrendo
tantos caminhos, viveram tão intensos, sem medo da opressão.
E num momento de lucidez, voltando a
escalar o ninho, foi como se nunca tivessem sidos jogados rente ao chão.
Olharam para o ninho como olhares
resistentes, se iludiram que tenham entendido o sentido de uma paixão... Que
pode ser passageira, se não for ilusão e muitas vezes ela surge para tanta
reflexão.
Em algum momento deste universo, há de
haver uma explicação para que esse sentimento não os tire a razão.
Seguiram suas vidas, cada um a seu modo,
mas levaram este segredo, sentindo o cheiro que exalaram no toque de suas mãos,
que percorreram seus corpos. Perderam-se nas caricias, e depois de algum tempo
virou recordação.
Foram se encontrando por ai, como quem
nunca se tinham visto, muito alem de seus olhos ou que viveram essa paixão.
Foram caladinhos, seguindo suas vidas
gritando mesmo em silêncio – que, se um dia os empurrarem de novo de seus
ninhos relembrarão como tudo começou - bem devagarzinho.
Albertina Chraim
quinta-feira, 20 de junho de 2013
13. ODISSEIA DE MARIA
E aquele dia, talvez devesse ter sido um
dia igual aos outros, como todos os seus outros dias.
Mas, não foi!
Eram turbilhoes de informações e os ventos
sopravam sem direção.
As decisões não estavam tão claras e os
desejos nem tão perfeito. Mas, o dia se fez dia, e a noite parecia
acordar.
E Maria então pegou-se em pensamentos e
nas nuvens saiu a velejar... Saiu sem saber a direção, muito menos que
rumo iria tomar... Seguiu seus instintos de fera protegendo a cria... De
forma tão voraz, que a realidade a consumia em fantasias.
Se, instintos são selvagens, para que
tanta serventia, se no homem apenas habita - um Ser a cada dia?
Se foi sonho ou devaneio, Maria não pode
precisar. Então, Maria mesmo dormindo, abriu seus olhos... Será que foi real ou
apenas ilusão, aquele dia que devesse ser igual a qualquer outro?
E do fogo se fez vida, e da vida, a
paixão. Mas os segundos não perdoaram Maria...
Não foi fácil definir o que estava se
passando, naquele dia... Maria projeta-se nessa odisséia entre cenários de
ilusão...
E ele beijou-lhe a boca, apertando-a
contra o peito... Não se sabe de onde veio, nem qual a sua direção, e Maria
entregou-se a ele como se nunca tivesse lhe dito - Não!
Com o vento batendo-lhe a porta...
Em rajadas de solidão, Maria vê afastar-se - mesmo segurando suas mãos...
Foi assim aquele dia, no qual Maria
perdera a razão...
Deixou-se se levar...
Poderia ser um dia qualquer, desses que
não precisa ser perfeito...
E Maria ate hoje relembra de sua odisseia -
em sonhos vai ate as nuvens e quando acorda, toca seus pés ao
chão...
Albertina Chraim
domingo, 16 de junho de 2013
12. CACHOEIRA DO JARRÄO
O grupo decidiu seguir a
trilha para passar o dia tomando banho na linda cachoeira escondida
no alto da montanha que guardava
segredos e mistérios em meio a natureza.
Depois de uma longa
caminhada, com mochilas nas costa ouvindo piadas e cantando a conhecia música dos
escoteiros – a “árvore da montanha”, tudo parecia perfeito, nessa doce
aventura, de desbravar aquele caminho
desconhecido ate alcançar a Cachoeira do Jarrão .
Ouvia-se já ao longe o
barulho das águas a cantarolar sua fúria,
contracenando com o barulho silencioso da floresta.
Maria, atenta, aos sons
dos pássaros entoando canções nos acorde das quedas das águas da Jarrão que envolvia com seu véu branco as espumas que
escondiam a fúria das tormentas do turbilhão
das águas – que encantavam e amedrontavam, ao mesmo tempo aquele lugar.
Foi assim, que, depois de
duas horas de caminhada chegaram a cachoeira encantada, cheia de pedras bonitas
e espumas brancas, que
enamoravam tenebrosas quedas d água.
O grupo então se dispersa
da cantoria, larga as mochilas e entra
nas águas a lançá-las para o ar -
fazendo chuvas de gotas douradas a cair-lhes sobre a cabeça...
E foi nessa alegria que
Maria, começam a reconhecer o local buscando aproximar-se das quedas das
águas que em metros de alturas pareciam infinitas.
As pedras escorregadias
exigiam cuidados. E brincaram toda a manha
a deliciar-se na fonte da cachoeira, até encontrar um lugar em forma de bacia,
que, diante de tantos lugares arriscados ali parecia um lugar mais seguro para
aproveitar aquela doce aventura...
Maria curiosa, atenta a
todo instante aos perigos constantes que habitavam aquele lugar, sente uma força
maior como se tivesse alguém maior a
lhes avistar... Corre seus olhos entre as árvores, vê o balanço das folhas, o
canto dos tucanos parecem se comunicar com os humanos:
– Tenham cuidados não se dispersem...
Maria se arrepia com a
certeza que há mais alguém naquele lugar...
Sempre muito atenta pede para todos se
cuidar...
- Não se afastem uns dos
outros, nem se aproximem da queda d água, pois
lá é arriscado e podem se afogar...
E assim passaram o tempo, a
fazer brincadeiras dentro dessa bacia de d agua, antes de chegar a ribanceira.
Porem, numa questão de
segundos, assim como gira o mundo, em espaço de descuido Maria olha para a
ribanceira e vê Teresa desaparecer como se
estivesses fugindo do mundo...
As águas calmas da bacia,
começam a se agitar e Maria grita para o
grupo para das águas se afastar.
Todos saíram das águas,
sem entender o ocorrido e Maria nesse momento perde os sentidos... Porem como
ser pensante... Acredita que em questão de instante – Teresa poderá
salvar...
Volta a cair nas águas, a
escorrega na ribanceira pensando que desta forma poderá trazer Teresa de volta,
e assim – a ela salvar.
Maria não sabia o que
viria pela frente, mas, seu instinto de sobrevivência a fez jogar-se nas águas...
Todos então em terra firme, ainda
assustados... Juntaram suas mãos a rezar.
No momento da queda, a
tormenta era tanta, que Maria atordoada rolando em queda livre chega ao fundo - já no chão da cachoeira.
Lá, encontra um novo
mundo, exatamente naquele lugar. Era
algo diferente, mesmo debaixo das águas –
se, lá em cima era tormenta, lá embaixo era de outra ordem - como um
cenário e poucas pessoas em cena...
Embebida com aquele lugar, questiona o que esta acontecendo... Olha para
cima e vê o mundo terreno... Não teve tempo de assustar-se, pois tinha uma missão
– se jogou naquela queda para trazer de volta Teresa.
Maria retoma aos poucos a
consciência, clama por clemência, não planejava ir-se dessa forma, muito menos desrespeitar os perigos daquele
lugar...
E Maria nesse momento,
então se lembra de quem a estava lá fora, a pouco a lhe vigiar... Morava no
fundo daquelas águas e iria lhe
salvar...
Brigando com a situação
Maria observa uma enorme mão a lhe
trazer a salvação... E por questão de segundos, Maria sente levantar-se do
fundo... E nas margens da cachoeira seu
corpo a relaxar...
Então já liberta, do fundo da cachoeira - Maria ainda
incrédula, de toda aquela situação, olha para longe e vê Teresa lhe estendendo
a mão ...
Ao esticar seus braços, segura Teresa, a puxa para perto de si e livrar-lhe da
correnteza.
O grupo de longe a correr
pela margem, avista Maria e Teresa, em
terra firma... Ao aproximar-se e certificar-se que esta tudo bem,
abraçam-se e um único som, dizem:
- Amem!
Ate hoje o grupo não
sabe como elas se salvaram daquela correnteza...
Maria ate hoje, guarda aquele segredo – que Deus também mora
naquele lugar.
Maria sente a
brisa a soprar-lhe a face como se realmente estive passado a noite e
vivesse essa aventura - naquele lugar...
Nesse instante, afasta as
coberta, espreguiça seu corpo, pois é hora de acordar.
Albertina Chraim
sexta-feira, 14 de junho de 2013
11.O PERFUME
E Maria, adormecida, agasalhada em seus braços sentiu-se
palpitante com o calor daquele abraço.
Caminhou
em terras quentes, voou nas alturas, navegou em águas claras, subiu colinas, e
seguiram a mesma trilha.
Era assim aquela manha, de um dia ensolarado... E Maria ainda ouvia de
longe sua voz..
Aquele
Ser bonito, de porte elegante, conduzindo o seu sorriso como se já tivesse sido
um dia, o seu amante.
Não tiveram medos das entregas, nem das dores que sentiam, apenas trovaram
prosas das verdades e das fantasias.
Foram tantos os assuntos, de crianças e adultos - falaram de
cuidados, de amores e valores - das saudades - de Deus
e de Senhores.
Não
se sabe de onde veio, ou para onde ele foi. E apenas deixaram em suas mãos - o
perfume.
Que
delicia esses dois, que de fragrância se despedem deixando no coração um do
outro - uma linda reflexão sobre o mundo.
Mesmo
com o tempo ficando curto, os segundos parecendo eternos, cada suspiro de
Maria revelam sentimentos...
As
noites traiçoeiras, nos Sonhos de Maria transforma em realidade, suas fantasias.
Maria
mesmo dormindo, esboçava-se em sorrisos, sentido coisas, que talvez acordada,
jamais tivesse sentido.
Era
pura ilusão, como se estivesse num teatro e os protagonistas
vivessem um grande amor.
Mas,
numa questão de descuido as luzes ascenderam, as cortinas se abriram...
E
Maria agora acordada, vira para o lado e percebe seu vazio.
Albertina Chraim
segunda-feira, 10 de junho de 2013
10. A PRAÇA DE ILUSÁO
Sentada no banco da praça,
a admirar a paisagem tranqüila daquele lugar - Maria escuta os pássaros em
revoadas nas copas das arvores a anoitar-se.
Vestida de pensamentos,
meio a algazarras de crianças a correr em alegrias, seu olhar distante fita a
natureza, como quem sem direção agradecendo ao criador, por toda aquela visão...
Não!
Não era miragem, a beleza
da natureza daquela praça de ilusão.
Foi ali que ela encantou-se
com um forasteiro que roubou-lhe seu coração, porem um dia, como magia, ele
foi-se, deixando Maria na solidão.
Os anos se passaram e todo
final de tarde, Maria voltava ao banco da praça a recordar o amor perdido
daqueles olhos tristes que a beijou numa tarde de verão.
E assim, foram-se os anos recordando a canção que
falava de amores e de paixão...
Passou-se tanto tempo que
os dias nem mais contava, pois Maria ainda guardava no seu peito a poesia.
E o amor de péles claras,
de olhar encantador, falava coisas lindas com palavras de amor.
Falou-lhe de desejos, de
saudades e de flores - não a prometeu nada, e Maria enamorou-se...
Mas, numa tarde e outono
daquelas de brisa na face, onde as folhas secas caem, o cheiro do mar nos
invade, Maria sentada na praça vê uma miragem... Aquele sorriso elegante, a
aproximar-se com a mesma classe que há encantou um dia... Chegando de mansinho,
falando coisas lindas de amor e cumplicidades...
Maria assustada, porem cheia
de esperança abre-lhe seu coração, como quem a aconchegar-se naquele olhar que a amara um dia.
Maria sorridente segue um
passo a frente, com olhar surpreendente a reviver seu grande amor...
Em questão de segundos,
parece que parou o mundo para que aquele momento jamais tivesse fim... E Maria
entusiasmada sente o calor de seus lábios, num beijo ardente, de dois corpos
apaixonados... Nos cabelos a caricia, o corpo na ponta dos pés... Maria agora
sente o desejo de Mulher...
Mas, Maria ao dar-se
conta de sua fantasia, mais uma vez o vê afastar-se ao acordar de seu sonho,
pois já estava a amanhecer o dia.
Albertina Chraim
sábado, 8 de junho de 2013
9.UM AMOR PARA MARIA
A praia recortada de encostas a levava a admirar a natureza, diante das paisagens e dos cantos das gaivotas que, perdidas na ilha, enfeitavam o céu naquele final de tarde ensolarado.
Finava-se
também o verão e as águas pareciam geladas anunciando o inverno a bater na
porta.
Seus
pés escreviam suas marcas deixadas pela singularidade de seus pensamentos. Pés
desnudos, pés descalços riscavam a areia branca, e a maré, como sorrateira
beijava sua pele - e em disparada voltava para o oceano como a quem, a não se
importar com a solidão de Maria.
O vento
cobria-lhe a face e os cabelos esvoaçantes turvavam a imagem que ela fitava, a
perde-se no horizonte.
Maria,
nesse momento sonha com aqueles olhos tristes que havia encontrado dias antes,
como quem por acaso a desejar-lhe - Bom dia!
De onde
surgira aquele mistério que encantadoramente abraçara seu coração como um
desconhecido sorrateiro?
Pensamentos
giravam naquela mente, a desejá-lo sussurrando em seus ouvidos palavras, que
somente um amor, poderia proferir.
E assim
se fazia os finais de tarde de Maria - caminhante no deserto daquela praia -
por vezes soprando-lhe em brisas, outras vezes, ventanias.
Maria a
caminhar, reverenciava cada segundo daqueles momentos a perder-se na vastidão
do mar em pensamentos.
Numa
sensação desorientada, de um revolto de desejos Maria vê um vulto aproximar-se
a entregar-lhe um sorriso encantador. Aquele sorriso bonito com sabor de - Bom
dia!
Podendo
sentir seu coração disparado a pulsar na sintonia do amor, fundindo-se em dois
corações apaixonados, Maria vivencia a fantasia e a ilusão sem limites de
entregas.
E
aquelas areias de uma tarde fria, agora escaldantes, exalam o amor de Maria.
Maria
abre seus olhos para ter a certeza que o espaço que a circundava era real, e
que aquilo que sentia, não era miragem daquele território em que vivia.
E com
sensações imprecisas Maria vê a noite aproximar-se cobrindo o mar. E a vida,
agora de estrelas esta a iluminar os sonhos de Maria, que se entregava a tal
amor indiscriminadamente como se estive sob o efeito da energia de Netuno, sem
temer auto-enganos.
Passavam-se
as horas, mas o tempo congelava aquele momento como se estivem envoltos num véu
de ilusão, entre sonhos, desejos e fantasias.
Maria
receando acordar da realidade insípida e árida de seus dias...
devaneia-se, acreditando ser real.
A
sensação de estar viva, mesmo que por alguns momentos a levava como num
barquinho de velas inçadas a navegar em águas claras e cristalinas com mar de
calmaria.
E os
cantos das gaivotas, a distanciar-se de Maria, davam lugar aos sussurros em
seus ouvidos... E das pegadas deixadas na areia fez-se a cama de dois corpos a
se amar.
Não era
amor incondicional, nem amor para sempre, e Maria amou naquele momento, aqueles
olhos tristes.
Por
segundos, afastou-se do mundo terreno descobrindo fronteiras, iludindo-se ser
ela, aquela única gota de água capaz de que mover todo o oceano.
E Maria
entregou-se a tal amor, sob a proteção de Netuno - ouvindo a voz de seu coração
implorando para despertar o que há dentro de si.
Sentindo
ainda a areia fina em seus pés, Maria escuta ao longe o canto das gaivotas, e o
barulho das águas a recobrar-lhe a consciência trazendo-a para a realidade,
pois já estava amanhecendo o dia.
Albertina Chraim
quarta-feira, 5 de junho de 2013
8. EUGÊNIO, INGÊNUO E DONA EUFIGÊNIA
A parábola foi, é e
sempre será o recurso dos sábios para
falar aos simples e o recurso dos
simples para falar aos sábios e ainda
para
falar com os sábios.
(Alfonso
Francia)
Eugênio era um menino que ganhou o apelido da turma do bairro, de Ingênuo. Tudo que fazia ou falava, era sem fundamento. Não havendo contextos em suas falas, seus assuntos eram vagos e sem consistências. Seu português era péssimo, apenas na matemática ele se saía um pouquinho melhor. Metia-se em roubadas, confusões e era motivo de comentários de toda a turma do bairro e na escola.
Na leitura era uma negação,
corria dos livros, das tarefas e das obrigações escolares. Qualquer lugar era
melhor que a sala de aula.
Um dia, a turma do bairro
resolveu fazer uma brincadeira com ele, já que sabiam que ele não era muito
chegado à escola.
Escreveram num papel a
seguinte frase:“Mande esse mané para frente”. E mandaram-no entregar o
bilhete na farmácia do seu Manuel.
Não preciso contar que
Eugênio nem se deu o trabalho de ler o que estava escrito. E também, se lesse,
não faria muita diferença, pois pouco ou quase nada saberia
interpretar o que estava escrito.
Seu Manuel, homem brincalhão,
entendeu a suposta brincadeira e mandou-o entregar o bilhete no açougue de seu
Carlinhos.
E assim, Eugênio correu por
todo o bairro. Cada um o mandava para mais longe, debaixo de um sol de quase
40º.
Depois de passar em vários
lugares, mostrava o bilhete para as pessoas e num sarcasmo o mandavam
para o endereço seguinte...
Até que chegou à casa de
dona Eufigênia, uma professora, já aposentada.
Ao ver tamanha maldade dos
colegas, que aproveitaram-se das ingenuidade de Eugênio, dona Eufigênia,
perguntou, ao menino, por quantas casas ele já havia passado.
Eugênio já cansado falou em
voz baixa...
- Dona Eufigênia: eu estou correndo o bairro desde cedo. Eu não
fui para a escola, fiquei brincando na praça e ai o seu Manoel me pediu para
entregar esse bilhete no açougue do senhor Carlinhos, e um foi me mandando
entregar para o outro, até eu chegar à senhora.
Dona Eufigênia, olhou nos
olhos do menino e disse:
- Meu filho, você deveria estar na escola aprendendo a ler, pois se, você tivesse lido esse bilhete, assim que lhe entregaram, você não teria passado tanto sacrifício e muito menos feito papel de bobo.
- Meu filho, você deveria estar na escola aprendendo a ler, pois se, você tivesse lido esse bilhete, assim que lhe entregaram, você não teria passado tanto sacrifício e muito menos feito papel de bobo.
O menino pensativo, sem respostas, deixou um
minuto de silêncio transparecer em sua face ainda
inocente.
Nesse momento, Dona Eufigênia, chamou Eugênio para dentro, lhe ofereceu
um copo de água e sugeriu que ele lavasse seu rosto.
- Você precisa ter mais cuidados com você mesmo, precisa ter mais
argumentos de defesa. O mundo hoje é das letras, e isso faz parte de sua
geração. Portanto você não pode perder tempo vendo a vida passar, como se você
não fizesse parte deste universo!
Você é real e jovem, e tem
muito que aprender sobre a vida. Os estudos muito te auxiliarão naquilo que for
mais difícil.
- Mas dona Eufigênia!
- Todos me chamam de
cabeça oca, cabeça vazia!
- Eu não tenho jeito
para os estudos!
- Todo mundo fica falando
um monte de coisas na minha cabeça e fica tudo confuso!
Dona Eufigênia, ajeitando os
óculos no alto do nariz, lhe responde:
- Você é mais esperto do
que pensa!
- Apenas tem muita coisa
na cabeça, coisas que os outros colocam e te confundem!
- O que você precisa fazer é
ordenar seus pensamentos, já que as informações estão ai dentro!
- Você não precisa carregar
tudo o que aprende ao longo da vida e sim a essência do que se aprende.
- Mas dona Eufigênia, eu nem
sei o que é essa tal de essência!
Sim eu sei que você não sabe!
Sim eu sei que você não sabe!
Só se sabe o que é
essência, quando aprendemos a ler e escrever, e depois abstrair as informações
do que se aprende.
Ih! Agora ficou mais
complicado ainda, nem sei o que é essa tal de abstrair...
Pois é!
A vida vai ficando cada vez
mais difícil se não soubermos esses conceitos!
Ah! Dona Eufigênia, pelo menos eu
sei o que é conceito. Isso eu aprendi na escola. Conceito são as notas baixas
que os professores me dão. E o meu
conceito é sempre baixo. Pelo menos é o que os professores dizem:
Eugênio! Seu conceito comigo está lá embaixo!
Dona Eufigênia, passou a mão na cabeça de Eugênio e diz: - Amanha depois
de sua aula você vem aqui em casa... E vamos melhorar seus conceitos.
Todos os dias, Eugênio passou
a freqüentar a casa de dona Efigênia.
A velha professora, com
candura, e respeito ensinou o poder da abstração das idéias, e a essência das
informações.
A partir dai, o menino
aprendeu o significado da palavra essência e aprendeu a abstrair as
informações.
Num gesto de gratidão
Eugênio olha para dona Eufigênia e diz: - De hoje em diante chamarei a senhora
de dona Eufigênia, pois aprendi a ter o melhor
conceito de mim mesmo.
Hoje!
EU me sinto um GÊNIO e
nunca mais me chamarão de Ingênuo.
Albertina Chraim
domingo, 2 de junho de 2013
7. AS LENTES DOS OLHOS VERDES DE DORALICE
Doralice, amiga de Maria foi visitar um médico, pois sentia fortes dores
em sua coluna. Na cidade todas as quartas feiras, vinha Dr. Jacson,
ortopedista, de outra da cidade vizinha para atender na cidade onde as amigas moravam.
Doralice, mulher jovem e bonita com um lindo par de olhos verdes, inicia
o tratamento com o médico, adepto de terapias alternativas nas curas dos males
dos ossos...
Ate que um dia, no meio de uma consulta, Doralice percebe que o médico
começa a desviar o assunto e a dizer coisas, estranhas como se estivesse num
transe...
O médico, começa a falar de Maria, como se a conhecesse, ou como se
Doralice tivesse falado de Maria.
- Doralice!
- Preciso falar com sua amiga Maria!
Doralice, num susto tenta entender o que se passa, uma vez que em nenhum
momento Doralice tenha feito qualquer comentário sobre sua amiga Maria.
- Maria é sua amiga, eu a conheço de outras eras, e você é o canal para
que eu reencontre Maria.
Doralice assustada começa a ouvir as historias sobre Maria. Historias que correspondiam a realidade de
Maria, como se aquele médico a conhecesse.
Falou de fatos ocorridos e verídicos, sobre a vida de Maria que deixaram Doralice
impressionada...
Ao sair do consultório, Doralice procura Maria e conta o ocorrido, no
qual Maria incrédula se enche de argumentos para que Doralice não se sentisse
tão impressionada com as falas do médico...
- Doralice!
- Esse cara fez jogos de palavras, deve ter te hipnotizado e ai você deve
ter falado coisas que não percebeu que falou...
- Mas, Maria!
- Ele me contou fatos que você nunca me contou, e que agora te
perguntando você me confirma - como pode isso?
Nesse instante Maria se enche de silencio a buscar mais argumentos, e não
os encontra.
- Ele quer te ver a
qualquer custo... Pediu-me para você procurá-lo!
Doralice volta à consulta marcada
das sessões, e logo é cobrada pelo médico, sobre Maria...
- Doralice, você falou com Maria?
- Sim Doutor, falei com ela, mas Maria
achou tudo muito engraçado, e disse que jamais vai procurá-lo e que você deve
ser um charlatão...
- Doralice!
- Sei que é difícil acreditar, mas tudo é uma questão de dias, e quando
Maria menos esperar, vamos nos encontrar... É coisa de outra ordem que foge do
controle humano!
Doralice terminar suas
sessões, e mais uma vez ao encontra Maria, toca no assunto do médico. Porem,
Maria incrédula não quer saber das historias do médico e de Doralice.
Certo dia, Maria sente
fortes dores do braço. Uma dor tão forte, que parece estar arrancando fora, seu
braço.
A cidade era pequena, e
só tinha uma clinica de ortopedia e Maria logo pensa:
- Ainda bem, que não é
quarta feira, assim não corro o risco de encontrar aquele médico alucinado, que
diz saber coisas de minha vida...
Maria liga para a clínica e agenda com a secretária, uma
consulta no final da tarde com Doutor Gilberto.
Ao chegar a clínica, já
no início da noite, as dores de Maria parecem aumentar como se estivessem
apunhalando sua carne...
Maria é recebida pela
secretária que logo avisa...
- Dona Maria, Doutor,
Gilberto teve problemas particulares e hoje não pode atender, mas tem outro médico
que esta atendendo no seu lugar...
Maria sentia tanta dor
em seu braço, que nem teve tempo de pensar... E além de tudo, não corria riscos
por não ser quarta feira...
- Minha jovem, eu quero um médico que tire essa dor de meu braço, nessas
alturas do campeonato, eu nem tenho tempo de fazer escolhas, só preciso ser
atendida logo.
- Sim Senhora, o Doutor,
já vai atendê-la, a senhora será a próxima, ele já esta terminando o
atendimento.
Maria se contorce na
sala de espera, com as fortes dores no braço a inquietá-la.
Sua dor é esquecida por
segundos, quando abre-se a porta do consultório e vê um homem jovem, bonito de
jaleco branco, despedindo-se de um paciente.
- Doutor!
- Agradeço sua atenção e estou saindo bem melhor do que entrei, seguirei
suas recomendações e voltarei no retorno.
Maria escuta a conversa do Doutor e do paciente que se despede na porta
do consultório...
O silêncio impera na
sala de espera, e Maria, impaciente já se encontra em pé na sala, quando escuta
chama - lá...
- Senhora Maria por
gentileza!
Maria agradece a secretária
e se dirige ao consultório... Quando depara com aquele homem, jovem, bonito,
fazendo algumas anotações...
Lentamente ergue a
cabeça, olhando para Maria, e encantado suspira...
- Meu Deus!
- Eu sabia, eu Sabia que você viria, era apenas uma questão de dias!
Nesse momento, Maria num
misto de dor e espanto não quer entender o que se passa naquela sala...
- Maria!
- Eu sou Dr. Jacson, atendo aqui
todas as quartas feiras, mas hoje em especial vim cobrir o horário de meu amigo
Dr. Gilberto que teve problemas particulares e de ultima hora e não pode
atender...
- E para minha surpresa
você veio ao consultório justamente hoje... Realmente tem coisas que fogem de
nosso entendimento...
Maria incrédula e
assustada, senta numa cadeira confortável esquecendo-se da forte dor que sentia
há minutos na sala de espera...
Num misto de curiosidades
e medo começa a ouvir do médico coisas que somente ela sabia - seus segredos,
seus medos, suas verdades, seus projetos e parte de sua vida... Como se, aquele
homem tivesse pleno controle sobre a vida de Maria...
Maria que nada fala,
apenas escuta, arrepia-se tentando entender o que se passa...
Dr. Jacson, fala da vida
de Maria, dos filhos de Maria, fala dos medos, das saudades, das falas e da
vaidade de Maria... Contando detalhes que a mais ninguém pertencia.
Ainda incrédula, Maria, arrisca-se
a perguntar, como tudo isso acontecia.
- Dr. Jacson, o que esta
acontecendo?
- Como podes invadir minha vida, como se você
fizesse parte de minhas histórias contando os meus dias?
- Maria!
- Há coisas que você precisa saber, mas para saber você tem que acreditar!
- Você já ouviu falar em
teorias de vidas futuras...
- Não, não, eu sempre ouvi falar de teorias de
vidas passadas, mas de vidas futuras nunca ouvi!
- Então, vamos cuidar do
seu braço enquanto lhe conto essa teoria...
Maria deita na maca e
começa a ser examinada pelo médico que mexe o braço de Maria, de um lado para o
outro e pergunta-lhe se esta doendo...
A medida que o médico
vai tocando em seu braço, Maria, sente sua dor sumir lentamente...
Maria segue a escuta,
mas o médico fica em silêncio a fitar Maria, com um olhar que lhe parecia
conhecido. O olhar, o sorriso, o cheiro, não mais lhe eram estranhos.
- Dr. Jacson, e a teoria
de vidas futuras... O que tem a me falar?
- Maria!
- Há coisas que não conseguimos explicar nesse plano, mas podemos
senti-las. Explicá-las agora, é algo que pode soar como sem sentido... Mas, vou
tentar te falar de forma simples para que possas compreender, e quem sabe um
dia com mais serenidade você possa aceitar e se aprofundar no assunto...
- Eu e você já estivemos
juntos em outras eras - você foi muito importante para mim e eu te perdi,
te perdi por vaidade, por não saber o que queria e só me dei conta disso,
quando não mais te tinha... Foram anos de sofrimento, saudades e
arrependimentos que me levaram a morte.
- Depois voltei a terra,
e me fiz médico - casei tenho filhos, mas meu inconsciente ainda procurava algo
que eu não sabia explicar, era algo
muito mais forte que eu, mas eu não sabia o que era e vivi ate pouco tempo um
tanto insatisfeito, por isso, busquei em vários seguimentos explicações para
essa ausência que não sabia direito o que era...
- Ate que um dia no
consultório, me deparei com Doralice - olhava em seus olhos e me via num livro
de páginas abertas a me mostrar algo que nem eu sabia direito o que era, e como
sem explicação começo a ver você pela lente dos olhos verdes de Doralice...
- Comecei a fazer
questionamentos, a ela, e ela ficou um tanto assustada, mas era algo que fugia
de meu controle... Vinham-me imagens de um mundo muito distante, de uma volta
ao tempo que me fez recordar momentos em que nem eu imaginava que existiam...
Mas me vinha à mente... Depois que Doralice saiu de meu consultório fiquei a
pensar na energia que emanava daqueles olhos verdes que me resgatou a memória.
- Hoje não estava
previsto, mas pude vir aqui e substituir meu amigo Dr. Gilberto, e por uma
força maior, hoje você esta a minha frente...
- Eu só precisava te ver
mais uma vez, tocar teu rosto, sentir teu cheiro, olhar em teus olhos pelo
menos mais numa vez...
Maria assustada e
encantada com a voz daquele homem que por vezes parecia ser alguém que ela
conhecia, porem não sabia de onde, nem de quando - quase que adormecida
entrega-se ao silêncio daquele consultório, como se ali, ela tivesse voltado à
outra dimensão, outra era, outra esfera.
Aquele estranho que já
não lhe parecia tão estranho causava a Maria uma sensação de tranqüilidade,
aconchego e segurança, como se uma troca de energia estivesse naquele ambiente.
Dr. Jacson acaricia os
cabelos de Maria, segura sua testa e a beija como se você o primeiro e o ultimo
beijo...
Seis horas da manha o
alarme do despertador toca, e Maria olhando a fresta da janela da uma
espreguiçada languidamente na cama e resolve voltar a dormir por mais cinco
minutinhos como se ainda pudesse dar continuidade aquele sonho.
Albertina Chraim
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