A praia recortada de encostas a levava a admirar a natureza, diante das paisagens e dos cantos das gaivotas que, perdidas na ilha, enfeitavam o céu naquele final de tarde ensolarado.
Finava-se
também o verão e as águas pareciam geladas anunciando o inverno a bater na
porta.
Seus
pés escreviam suas marcas deixadas pela singularidade de seus pensamentos. Pés
desnudos, pés descalços riscavam a areia branca, e a maré, como sorrateira
beijava sua pele - e em disparada voltava para o oceano como a quem, a não se
importar com a solidão de Maria.
O vento
cobria-lhe a face e os cabelos esvoaçantes turvavam a imagem que ela fitava, a
perde-se no horizonte.
Maria,
nesse momento sonha com aqueles olhos tristes que havia encontrado dias antes,
como quem por acaso a desejar-lhe - Bom dia!
De onde
surgira aquele mistério que encantadoramente abraçara seu coração como um
desconhecido sorrateiro?
Pensamentos
giravam naquela mente, a desejá-lo sussurrando em seus ouvidos palavras, que
somente um amor, poderia proferir.
E assim
se fazia os finais de tarde de Maria - caminhante no deserto daquela praia -
por vezes soprando-lhe em brisas, outras vezes, ventanias.
Maria a
caminhar, reverenciava cada segundo daqueles momentos a perder-se na vastidão
do mar em pensamentos.
Numa
sensação desorientada, de um revolto de desejos Maria vê um vulto aproximar-se
a entregar-lhe um sorriso encantador. Aquele sorriso bonito com sabor de - Bom
dia!
Podendo
sentir seu coração disparado a pulsar na sintonia do amor, fundindo-se em dois
corações apaixonados, Maria vivencia a fantasia e a ilusão sem limites de
entregas.
E
aquelas areias de uma tarde fria, agora escaldantes, exalam o amor de Maria.
Maria
abre seus olhos para ter a certeza que o espaço que a circundava era real, e
que aquilo que sentia, não era miragem daquele território em que vivia.
E com
sensações imprecisas Maria vê a noite aproximar-se cobrindo o mar. E a vida,
agora de estrelas esta a iluminar os sonhos de Maria, que se entregava a tal
amor indiscriminadamente como se estive sob o efeito da energia de Netuno, sem
temer auto-enganos.
Passavam-se
as horas, mas o tempo congelava aquele momento como se estivem envoltos num véu
de ilusão, entre sonhos, desejos e fantasias.
Maria
receando acordar da realidade insípida e árida de seus dias...
devaneia-se, acreditando ser real.
A
sensação de estar viva, mesmo que por alguns momentos a levava como num
barquinho de velas inçadas a navegar em águas claras e cristalinas com mar de
calmaria.
E os
cantos das gaivotas, a distanciar-se de Maria, davam lugar aos sussurros em
seus ouvidos... E das pegadas deixadas na areia fez-se a cama de dois corpos a
se amar.
Não era
amor incondicional, nem amor para sempre, e Maria amou naquele momento, aqueles
olhos tristes.
Por
segundos, afastou-se do mundo terreno descobrindo fronteiras, iludindo-se ser
ela, aquela única gota de água capaz de que mover todo o oceano.
E Maria
entregou-se a tal amor, sob a proteção de Netuno - ouvindo a voz de seu coração
implorando para despertar o que há dentro de si.
Sentindo
ainda a areia fina em seus pés, Maria escuta ao longe o canto das gaivotas, e o
barulho das águas a recobrar-lhe a consciência trazendo-a para a realidade,
pois já estava amanhecendo o dia.
Albertina Chraim
Nenhum comentário:
Postar um comentário