quarta-feira, 5 de junho de 2013

8. EUGÊNIO, INGÊNUO E DONA EUFIGÊNIA



                                       A parábola foi,  é  e sempre será o recurso dos sábios                   para falar aos simples e o recurso dos
 simples para falar aos sábios e ainda
 para falar com os sábios.
                                   (Alfonso Francia)


     
      Eugênio era um menino que ganhou o apelido da turma do bairro, de Ingênuo. Tudo que fazia ou falava, era sem fundamento. Não havendo contextos em suas falas, seus assuntos eram vagos e sem consistências. Seu português era péssimo, apenas na matemática ele se saía um pouquinho melhor. Metia-se em roubadas, confusões e era motivo de comentários de toda a turma do bairro e na escola.
        Na leitura era uma negação, corria dos livros, das tarefas e das obrigações escolares. Qualquer lugar era melhor que a sala de aula.
        Um dia, a turma do bairro resolveu fazer uma brincadeira com ele, já que sabiam que ele não era muito chegado à escola.
        Escreveram  num papel a seguinte frase:“Mande esse mané para frente”. E mandaram-no entregar o bilhete na farmácia do seu Manuel.
        Não preciso contar que Eugênio nem se deu o trabalho de ler o que estava escrito. E também, se lesse, não faria muita diferença, pois  pouco ou quase nada  saberia  interpretar o que estava escrito.
        Seu Manuel, homem brincalhão, entendeu a suposta brincadeira e mandou-o entregar o bilhete no açougue de seu Carlinhos.
        E assim, Eugênio correu por todo o bairro. Cada um o mandava para mais longe, debaixo de um sol de quase 40º.
        Depois de passar em vários lugares, mostrava o bilhete para as pessoas e num sarcasmo  o mandavam para o endereço seguinte...
       Até que chegou à casa de dona Eufigênia, uma professora, já aposentada.
       Ao ver tamanha maldade dos colegas, que aproveitaram-se das ingenuidade de Eugênio, dona Eufigênia, perguntou, ao menino, por quantas casas ele já havia passado.
        Eugênio já cansado falou em voz baixa...

- Dona Eufigênia:  eu estou correndo o bairro desde cedo. Eu não fui para a escola, fiquei brincando na praça e ai o seu Manoel me pediu para entregar esse bilhete no açougue do senhor Carlinhos, e um foi me mandando entregar para o outro, até eu chegar à senhora.
        Dona Eufigênia, olhou nos olhos do menino e disse:
         - Meu filho, você deveria estar na escola aprendendo a ler, pois se, você tivesse lido esse bilhete, assim que lhe entregaram, você não teria passado tanto sacrifício e muito menos feito papel de bobo.
         O menino pensativo, sem respostas, deixou um minuto de silêncio transparecer em sua face ainda inocente.    
Nesse momento, Dona Eufigênia, chamou Eugênio para dentro, lhe ofereceu um copo de água e sugeriu que ele lavasse seu rosto.
- Você precisa ter mais cuidados com você mesmo, precisa ter mais argumentos de defesa. O mundo hoje é das letras, e isso faz parte de sua geração. Portanto você não pode perder tempo vendo a vida passar, como se você não fizesse parte deste universo!

        Você é real e jovem, e tem muito que aprender sobre a vida. Os estudos muito te auxiliarão naquilo que for mais difícil.
        -  Mas dona Eufigênia!  
        -  Todos me chamam de cabeça oca, cabeça vazia!
        -  Eu não tenho jeito para os estudos!
        - Todo mundo fica falando um monte de coisas na minha cabeça e fica tudo confuso!
        Dona Eufigênia, ajeitando os óculos no alto do nariz, lhe responde:
        - Você é mais esperto do que pensa!
        - Apenas tem muita coisa na cabeça, coisas que os outros colocam e te confundem!
       - O que você precisa fazer é ordenar seus pensamentos, já que as informações estão ai dentro!
        - Você não precisa carregar tudo o que aprende ao longo da vida e sim a essência do que se aprende.
        - Mas dona Eufigênia, eu nem sei o que é essa tal de essência!
        Sim eu sei que você não sabe!
        Só se sabe o que é essência, quando aprendemos a ler e escrever, e depois abstrair as informações do que se aprende.
        Ih! Agora ficou mais complicado ainda, nem sei o que é essa tal de abstrair...
        Pois é!
       A vida vai ficando cada vez mais difícil se não soubermos esses conceitos!
       Ah! Dona Eufigênia, pelo menos  eu sei o que é conceito. Isso eu aprendi na escola. Conceito são as notas baixas que os professores me dão.  E o meu conceito é sempre baixo. Pelo menos é o que os professores dizem:
Eugênio! Seu conceito comigo está lá embaixo!
Dona Eufigênia, passou a mão na cabeça de Eugênio e diz: - Amanha depois de sua aula você vem aqui em casa... E vamos melhorar seus conceitos.
        Todos os dias, Eugênio passou a freqüentar a casa de dona Efigênia.
        A velha professora, com candura, e respeito ensinou o poder da abstração das idéias, e a essência das informações.
        A partir dai, o menino aprendeu o significado da palavra essência e aprendeu a abstrair as informações.
        Num gesto de gratidão Eugênio olha para dona Eufigênia e diz: - De hoje em diante chamarei a senhora de dona  Eufigênia,     pois aprendi a ter o melhor conceito de mim mesmo.
        Hoje!
        EU me sinto um GÊNIO e nunca mais me chamarão de Ingênuo.


Albertina Chraim

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