A parábola foi, é e
sempre será o recurso dos sábios para
falar aos simples e o recurso dos
simples para falar aos sábios e ainda
para
falar com os sábios.
(Alfonso
Francia)
Eugênio era um menino que ganhou o apelido da turma do bairro, de Ingênuo. Tudo que fazia ou falava, era sem fundamento. Não havendo contextos em suas falas, seus assuntos eram vagos e sem consistências. Seu português era péssimo, apenas na matemática ele se saía um pouquinho melhor. Metia-se em roubadas, confusões e era motivo de comentários de toda a turma do bairro e na escola.
Na leitura era uma negação,
corria dos livros, das tarefas e das obrigações escolares. Qualquer lugar era
melhor que a sala de aula.
Um dia, a turma do bairro
resolveu fazer uma brincadeira com ele, já que sabiam que ele não era muito
chegado à escola.
Escreveram num papel a
seguinte frase:“Mande esse mané para frente”. E mandaram-no entregar o
bilhete na farmácia do seu Manuel.
Não preciso contar que
Eugênio nem se deu o trabalho de ler o que estava escrito. E também, se lesse,
não faria muita diferença, pois pouco ou quase nada saberia
interpretar o que estava escrito.
Seu Manuel, homem brincalhão,
entendeu a suposta brincadeira e mandou-o entregar o bilhete no açougue de seu
Carlinhos.
E assim, Eugênio correu por
todo o bairro. Cada um o mandava para mais longe, debaixo de um sol de quase
40º.
Depois de passar em vários
lugares, mostrava o bilhete para as pessoas e num sarcasmo o mandavam
para o endereço seguinte...
Até que chegou à casa de
dona Eufigênia, uma professora, já aposentada.
Ao ver tamanha maldade dos
colegas, que aproveitaram-se das ingenuidade de Eugênio, dona Eufigênia,
perguntou, ao menino, por quantas casas ele já havia passado.
Eugênio já cansado falou em
voz baixa...
- Dona Eufigênia: eu estou correndo o bairro desde cedo. Eu não
fui para a escola, fiquei brincando na praça e ai o seu Manoel me pediu para
entregar esse bilhete no açougue do senhor Carlinhos, e um foi me mandando
entregar para o outro, até eu chegar à senhora.
Dona Eufigênia, olhou nos
olhos do menino e disse:
- Meu filho, você deveria estar na escola aprendendo a ler, pois se, você tivesse lido esse bilhete, assim que lhe entregaram, você não teria passado tanto sacrifício e muito menos feito papel de bobo.
- Meu filho, você deveria estar na escola aprendendo a ler, pois se, você tivesse lido esse bilhete, assim que lhe entregaram, você não teria passado tanto sacrifício e muito menos feito papel de bobo.
O menino pensativo, sem respostas, deixou um
minuto de silêncio transparecer em sua face ainda
inocente.
Nesse momento, Dona Eufigênia, chamou Eugênio para dentro, lhe ofereceu
um copo de água e sugeriu que ele lavasse seu rosto.
- Você precisa ter mais cuidados com você mesmo, precisa ter mais
argumentos de defesa. O mundo hoje é das letras, e isso faz parte de sua
geração. Portanto você não pode perder tempo vendo a vida passar, como se você
não fizesse parte deste universo!
Você é real e jovem, e tem
muito que aprender sobre a vida. Os estudos muito te auxiliarão naquilo que for
mais difícil.
- Mas dona Eufigênia!
- Todos me chamam de
cabeça oca, cabeça vazia!
- Eu não tenho jeito
para os estudos!
- Todo mundo fica falando
um monte de coisas na minha cabeça e fica tudo confuso!
Dona Eufigênia, ajeitando os
óculos no alto do nariz, lhe responde:
- Você é mais esperto do
que pensa!
- Apenas tem muita coisa
na cabeça, coisas que os outros colocam e te confundem!
- O que você precisa fazer é
ordenar seus pensamentos, já que as informações estão ai dentro!
- Você não precisa carregar
tudo o que aprende ao longo da vida e sim a essência do que se aprende.
- Mas dona Eufigênia, eu nem
sei o que é essa tal de essência!
Sim eu sei que você não sabe!
Sim eu sei que você não sabe!
Só se sabe o que é
essência, quando aprendemos a ler e escrever, e depois abstrair as informações
do que se aprende.
Ih! Agora ficou mais
complicado ainda, nem sei o que é essa tal de abstrair...
Pois é!
A vida vai ficando cada vez
mais difícil se não soubermos esses conceitos!
Ah! Dona Eufigênia, pelo menos eu
sei o que é conceito. Isso eu aprendi na escola. Conceito são as notas baixas
que os professores me dão. E o meu
conceito é sempre baixo. Pelo menos é o que os professores dizem:
Eugênio! Seu conceito comigo está lá embaixo!
Dona Eufigênia, passou a mão na cabeça de Eugênio e diz: - Amanha depois
de sua aula você vem aqui em casa... E vamos melhorar seus conceitos.
Todos os dias, Eugênio passou
a freqüentar a casa de dona Efigênia.
A velha professora, com
candura, e respeito ensinou o poder da abstração das idéias, e a essência das
informações.
A partir dai, o menino
aprendeu o significado da palavra essência e aprendeu a abstrair as
informações.
Num gesto de gratidão
Eugênio olha para dona Eufigênia e diz: - De hoje em diante chamarei a senhora
de dona Eufigênia, pois aprendi a ter o melhor
conceito de mim mesmo.
Hoje!
EU me sinto um GÊNIO e
nunca mais me chamarão de Ingênuo.
Albertina Chraim
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