A
chuva fina e o frio não indiferentes, cortavam as vestes que cobriam nossos corpos adornados pelas “cartas de amor”.
No
vão da janela em forma de pontes nos uniam a solidão
da ilha, ao vasto continente, nos apontando tantos horizontes.
E
o sarau escriturando falava de “amantes
passageiros” e das cartas de tantos amores que caídas em outras mãos tornam-se cifras
escritas do amor em camadas.
E
os traços das vestes, em rendas camisolas, retomavam as moradas pretas de
nossas memórias meninas.
E
as rocas quebradas, cerzindo cada mulher que há no coração da amada,
juntavam-se as costuras, unindo pedaços de vida como quem se monta as colchas
de retalhos.
Em cada fio que tecíamos falava-se também das “cartas de desamor”, e do quão o amor nos eleva ao ridículo, e que - se fossemos buscar o sentido desta palavra, o encontraríamos
na prateleira do riso.
Foram
tantos os assuntos em volta das “cartas de amor”, ou quem sabe o amor estava as
nossas voltas, em forma de bom-bom, com sabor de “amor carioca”. Aquele amor
chafariz, que nos cobre de cortina d’água, muitas vezes em esguichos, ou em
forma de cascatas.
E
os ovos de madeira, adornos de nossas avós
- que costuravam as meias do homem amado,
antes dos escalda pés, nos levaram a
conclusão, que, o amor, jamais muda de lado.
Quantas
meias costuradas em nome do amor, e
quantas cartas remetidas não alcançaram o desejo do emissor...
E
foi assim naquele final de tarde, com sopa de capelete, que eles se encontraram
no sarau escriturando que falava de “cartas de amor”.
Falou-se
do fogo, também de recomeço e que o
sentido da queima - vem do desejo que das cinzas, tal qual Fênix
- ressuscitante é o amor.
E
elas, muito embora ainda meninas, nessas coisas do amor, de falas apaixonadas, eloqüentes
manifestavam-se representante da mulher...
Espere
!
Não,
não era coisa do feminino, de mulheres sonhadoras, também havia um homem,
falando coisas do amor... E ele, que mesmo acabrunhado no silêncio de seus olhos se reportava aquele ultimo beijo,
ainda sentido ao perfume da amada.
Então
dei-me conta que o amor é algo serio que perturba os sentimentos nos tirando do
hemisfério – indo muito alem dos gêneros... não se importando ser másculo ou
feminino, quando ele chega se acamando
em forma de coração faz o homem ou a
mulher perder-se de vez da razão.
Feliz
é o coração que um dia, mais que receber, autorizou-se a escrever uma carta de
amor, mesmo que nunca a tenha chegado a mãos de seu amor.
Albertina
Chraim
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