segunda-feira, 1 de julho de 2013

16. SARAU - CARTAS DE AMOR - PROJETO ESCRITURANDO


A chuva fina e o frio não indiferentes, cortavam as vestes que cobriam  nossos corpos adornados  pelas “cartas de amor”.
No vão da janela em forma de pontes nos uniam a  solidão  da ilha, ao vasto continente, nos apontando tantos horizontes.
E o sarau escriturando falava de  “amantes passageiros” e das cartas de tantos amores que caídas em outras mãos tornam-se cifras escritas do amor em camadas.
E os traços das vestes, em rendas camisolas, retomavam as moradas pretas de nossas memórias meninas.
E as rocas quebradas, cerzindo cada mulher que há no coração da amada, juntavam-se as costuras, unindo pedaços de vida como quem se monta as colchas de retalhos.
 Em cada fio que tecíamos falava-se também  das “cartas de desamor”,  e do quão o amor nos eleva ao ridículo, e que  - se fossemos  buscar o sentido desta palavra, o encontraríamos na  prateleira do riso.
Foram tantos os assuntos em volta das “cartas de amor”, ou quem sabe o amor estava as nossas voltas, em forma de bom-bom, com sabor de “amor carioca”. Aquele amor chafariz, que nos cobre de cortina d’água, muitas vezes em esguichos, ou em forma de cascatas.
E os ovos de madeira,  adornos de nossas avós - que costuravam as meias do homem  amado,  antes dos escalda pés, nos levaram a conclusão, que, o amor, jamais muda de lado.
Quantas  meias costuradas em nome do amor, e quantas cartas remetidas não alcançaram o desejo do emissor...
E foi assim naquele final de tarde, com sopa de capelete, que eles se encontraram no sarau escriturando que falava de “cartas de amor”.
Falou-se do fogo, também  de recomeço e que o sentido da queima - vem do desejo que das cinzas,  tal qual Fênix   - ressuscitante é  o amor.
E elas, muito embora ainda meninas, nessas coisas do amor, de falas apaixonadas, eloqüentes manifestavam-se representante da mulher...
Espere !
Não, não era coisa do feminino, de mulheres sonhadoras, também havia um homem, falando coisas do amor... E ele, que mesmo acabrunhado no silêncio de  seus olhos se reportava aquele ultimo beijo, ainda sentido ao perfume da amada.
Então dei-me conta que o amor é algo serio que perturba os sentimentos nos tirando do hemisfério – indo muito alem dos gêneros... não se importando ser másculo ou feminino, quando ele chega  se acamando em forma de coração  faz o homem ou a mulher perder-se de vez  da razão.
Feliz é o coração que um dia, mais que receber, autorizou-se a escrever uma carta de amor, mesmo que nunca a tenha chegado a mãos de seu amor.


Albertina Chraim

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