segunda-feira, 8 de julho de 2013

18. MARIA ESCREVE UMA CARTA DE AMOR


Escrevo essa carta, talvez pela ânsia de  entender aquilo que  já nos é entendido, porem algo que nos vem de outra ordem, uma mistura de misticismo, carência, ânsia de viver. Um desbravamento da ordem das entranhas. Um jogo de sedução em forma de corpo e um corpo envolto nas emoções. Se tocarmos em frente, teremos  o dom de ser feliz. Mas, se todos somos capazes de ser felizes, então onde estará o dom de ser capaz? Onde encontremos a fonte da felicidade senão a encontramos dentro de nos mesmos?
Não, não é fácil equilibrarmos pregos na construção de nossa própria  identidade. E no momento, só nos resta ser a própria obra na reconstrução da busca de nos melhorar a cada dia.
Quantas pessoas por nos  já passaram, talvez com  o mesmo olhar de admiração que tenhamos um para com o outro. Mas parece que somente nesse momento, nos demos o direito, nos permitimos a essa ousadia... Nos admitimos para essa peripécia, como se a vida nos convidasse a brincar um pouquinho  mais e vivenciá-la de uma forma mais irreverente. Somos adultos, somos pessoas, as vezes jovens velhos e  outras, velhos jovens. Não é tão simples driblar os sentimentos  quando a razão nos da uma rasteira nos deixando a mercê das emoções e nos fazendo acreditar que o amor vem sempre na contra mão.
Tudo parece tão simples, ao mesmo tempo que nos parece tão fácil. Tudo parece tão complicado quando poderia ser muito simples.
Se tu queres, eu quero, se eu quero, tu queres. Será ânsia de viver, será desejo carnal, será carência de toque, de olhar nossos olhares e ter certeza que tem o outro na suas mãos?
Não sei, não sei, mas  alguém disse um dia, que a Paixão seria algo da ordem do descuido de sim mesmo... Da ordem da negligencia da razão. Algo que vem para justificar nossas insatisfações pessoais, nosso desejo de repensar nossa própria identidade.
E assim vamos pensando o que a vida faz conosco. Muito alem de viver um dia de cada vez, vivemos varias historias  no mesmo dia... E vamos construindo nossos cenários de experiências e memoriais.
Fico  molhada, fico excitada, só em pensar, me sinto acariciada o tempo todo. Me sinto amada, me sinto querida só em te ouvir, só em relembrar teus sussurros sorrateiros no pé de meu ouvido.
Você se encaixa em mim e eu me encaixo em você, como se fossemos os poros de nossas peles.
Sinto teu cheiro, teu hálito  e tudo me lembra sexo, e ao relembrar o sexo, me recordo do  tom de tua voz quase moleque,  me tirando do rumo. 
E nesse rumo eu me aprumo como se estivesse sem rumo. E assim você me chega como quem de repente, com sorriso bonito, olhos tristes e banho tomado, cheiro no corpo de homem sedento de carne.
E eu, tão segura de mim me deito agora na tua cama e nosso corpos em algazarras cometem o pecado. Não, não é brincadeira, mas parecemos duas crianças, brincando com coisas de adultos.
E la no fundo estamos a escutar nosso corações a nos alertar... não brinquem com fogo, alguém pode se queimar. Sempre soube que há de se ter juízo para servir de exemplos para os mais novos...  Mas, que exemplo posso dar se estou gostando de  me arriscar?
Ë, é ousado esse momento, mas me ensinaste  a sentir falta de ti, me ensinaste e te querer sempre mais. Teu jeito atrevido, de não me dar ouvido, me agasalha a alma tão sedenta de calor.
Se me encosta a pele,  sinto arrepiar-me os poros, e em minha boca sinto o teu sabor. Não, não posso dizer não a esse sabor de vida, mas também não  posso querer-te como cicatrizes de uma ferida daquelas que deixam marcar como recordação do lado cruel da vida, pois se foi para ir embora, por que veio?
Por que as coisas são tão difíceis de administrar quando o assunto envolve o coração?
Não, não posso me apaixonar, não  quero te amar, não quero me acostumar, não quero tantas coisas  com medo de nos machucar. Só em pensar que nesse momento podes estar em outros braços vem-me o frio na barriga como a quem me dizer que é hora de me retirar-me. Mas levo comigo o sabor de tua carne. Então meu amor, se for para sair saia de mansinho tal como quem chegou me desconsertando, tirando-me de meu rumo. Pois mesmo longe de ti terei a variadas formas  de  fazer homem amando.

Albertina Chraim

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