quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

33. MARIA E O ANDARILHO ORQUIDÁRIO

       
            Era um domingo desses de sol escaldante... Maria  a andante, a passear caminhante e sem destino, assim, como quem a saborear a vida... Numa dessas pisadas,   que o chão a sustentava - Maria olha o céu que, de tão  azul a contemplava. Desprovida de qualquer  indecisão,  segue analisando a vida - como se esquecesse desse velho mundo, cão. E assim, de repente... Num olhar de descuido, depara-se com um homem, mal trapilho e andarilho - todo sujo em sua direção.
        Foi ali, - naquele momento que algo estranho acontecia. Maria foi abordada pelo estranho como se, de algum lugar a conhecesse.
        De início, um tanto assustada,  observa que nas mãos daquele homem, o mesmo carregava um tipo de plantação. Maria então,  com mais cuidado, vê belas orquídeas, cuidadosamente cultivadas em vasos,  por aquele ermitão.
        E o homem com seus cabelos dourados,   a pele encardida feito carvão, e as mãos de tão sujas  parecia-lhe pano de chão.
       Ao olhar a face daquele homem, sente estranha sensação, - como  pode um homem de tez bonita encontrar- se naquela situação?
      Mas, numa questão de segundos Maria inicia a catação, na busca de parcas  moedas, para  livrar-se daquela situação. De repente ouve uma voz bonita  e com bela dicção a fazer-lhe uma  solicitação:
      - Não! Não  lhe quero seus  valores, muito menos sua compaixão, quero apenas lhe pedir que olhes a minha situação. O tempo esta esquentando e elas precisam de um abrigo, pois necessitam de água e sombra, - e isso elas não encontrarão comigo.  
     Não tenho paradeiro,  nem qualquer pretensão de atar-me em uma morada como se fosse ela, a minha prisão...
     Sou homem livre... Das esquinas de cada rua, e ao anoitecer  me cubro com o manto da própria lua. Mas, as orquídeas necessitam de um certo cuidado. Por isso estou implorando que  você as leve  e cuide como se fosse para sempre, um  tesouro encantado. De todas as espécies é ela a que mais me encanta – Conta a história que a rainha de Sabá  que  indecisa lhe parecia ao presentear Rei Salomão   recebeu de sua escrava um  linda decisão... - De dar-lhe uma orquídea,  flor de toda estação para decorar sua varanda - quem sabe assim a rainha conquistaria para sempre seu coração. Elas precisam de poucas coisas... Assim como um ermitão que sai por essa vida sem rumo e sem perdão  – Mas há uma diferença, elas, as orquídeas  precisam de claridade, de luz e proteção, e livrar-se das chuvas, das tempestades, dos ventos e da erosão. São as Phalaenopsis e precisam de substrato, oxigênio e boa ventilação. Não precisam de terras, pois, seu firmamento é aéreo -  basta um xaxim e pedaços de madeiras. E na adubação,  nitrogênio e potássio, serão boas opções. E o espaço a ser guardado  não querer muito requinte,  basta que tenhas zelos e as guarde eu seu coração.  
          E o homem ao negar-lhe as moedas de Maria, estica-lhe aqueles braços que embalavam belas orquídeas, ofertando a Maria, que, de muda se fazia,  ao ouvir  aquele  ensinamentos em plena luz do dia. E o  homem então, em forma de prece balbucia algo  para sua plantação, que de agora em diante  a Maria pertenceria. E o homem entoa, um câtingo segurando as mãos de Maria  em forma de oração,  - cultive essa orquídea como se estivesse tu, cuidando de tua própria filha.
       Ainda  incrédula do que estava a se passar, vê aqueles olhos verdes em silêncio se afastar. E Maria até hoje, cultiva várias espécies de belas orquídeas. Mas, entre elas tem uma especial que singela é cuidada como quem cuida de sua própria filha.

Albertina Chraim

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