Num final desses de tarde, elas se encontraram para conversar. Poderia
ser só de choro, lamentos, ou ainda duas mulheres a esbravejar. Mas, as duas,
naquele final de tarde, em meio a brisa da beira mar montaram seu atelier de
conversas paralelas, como se estivessem a se confessar.
Maria, a todos ouvidos, com seu olhar de escuta, observa os pássaros aninhando-se
nas árvores - para na noite repousar. Escuta a sua volta as conversas
paralelas de quem freqüenta aquele lugar. - Analisava o pescador na sua solidão, e o barco que navegava nas águas calmas
daquela baia a “cumpliciar-se” com o pescador a lançar sua rede ao mar.
E a conversa se fez, alinhavando em costuras com retalhos dos últimos feitos
- como se fossem suas vestes as mortalhas que cobrem as sepulturas de seus próprios
corpos, inertes em seus leitos.
E por meio das estrelinhas que compunham os seus textos - elas, as
entrelinhas é que sustentavam aqueles medos. Pois a verdade nua e crua entrava
rasgando a carne como açoite naqueles peitos. Falavam de tantas coisas, indo a tantos
lugares. Elas só não conseguiram entender, como podem os ermitões, viverem em
clã, como se não fossem pares.
E falaram das novas vidas que em forma de embriões -
anunciam o nascimento, alguns solitários
e outros já chegam duplicados, embora humanos.
Falaram das coisas da vida - da loucura, que o outro nos impõe, e depois
dos abandonos, como se nunca tivéssemos
sido os nossos próprios donos. Falavam de mata borrões que marca o próprio corpo como
forma inconsciente de provar que não se está morto. E depois veio o desejo,
mesmo que torto, de ferir a linha do tempo e escrever novas histórias, com lápis
coloridos e telas de aquarelas como se as histórias dos “Outros” pudessem uma
dia ser somente delas.
E Maria e Eva, falaram de roupas usadas, dos descartes daquilo que um
dia nos foi útil. Das arrumações dos guardas roupas, que se fazem desnecessárias,
das pinturas das paredes de suas casas.
- Não importando se serão brancas e azuis, ou brancas e amareladas, ou ainda
de que são feitas - de madeiras ou envidraçadas,
suas janelas. Falaram de rolhas de
cortiças em jarros de vidros aprisionadas, que moravam nas garrafas de vinhos.
E o sabor do suco de limão a sucumbir-se entre o aroma do camarão convidando-as a navegar nas nuanças gustativas entre o
olfato e o paladar, dava um olhar diferente para o que estava fora do alcance
daquela visão.
E refletindo aqueles papos, que pisaram em pés retorcidos que pendurados
ate doíam - as duas – Maria e Eva muito embora registradas em papel se perdem
naquele final de tarde, muitas vezes confundindo a própria identidade.
E das conversas de entre linhas que escrituravam aqueles textos, muitas
vezes se faziam tortas. Falou-se de tantas coisas que misturadas à
sensibilidade roubaram de “Cesar o que era de Cesar” - diferenciando os
diversos sabores que num mix gustativo entre o doce e o salgado, o azedo e o
amargo decantavam o sabor do silêncio, que isolado, fere o peito confundindo os
sentimentos de quem esta ao seu lado.
E Maria e Eva cada uma seguindo seu rumo foram embora mais uma vez. E pegaram suas estradas, e entre retas e curvas a
perder-se nesta imensidão ficaram sem
entender ao certo o que é esta imerso no deserto da solidão.
Albertina Chraim
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